Maxwell Morais de Lima Filho
O principal problema da área Filosofia
da Mente é o chamado problema mente-corpo (alguns diriam mente-cérebro), que
pode ser formulado de vários modos, mas, para o que nos interessa aqui, pode-se
apresentá-lo da seguinte forma: qual é a relação entre os processos e estados
mentais, por um lado, e os processos e estados físicos, por outro, ou seja,
onde situar a mente na natureza? Muitas foram – e são (!), trata-se de um campo
com intensos e empolgantes debates atuais – as respostas e teorias propostas
para solucionar este problema filosófico.
No que se segue, apresentarei algumas
ideias do filósofo norteamericano John Rogers Searle (1932- ), professor da
Universidade da Califórnia (Berkeley), que propôs uma teoria denominada
Naturalismo Biológico como solução ao problema mente-corpo. Para tanto,
utilizarei o capítulo 4 de seu influente livro A Redescoberta da Mente,
publicado originalmente em 1992, pela editora do Massachusetts
Institute of Technology. O roteiro geral será o seguinte: inicialmente,
Searle aborda o que é consciência para, logo em seguida, encaixá-la no quadro
conceitual da visão de mundo científica, mostrando, por fim, a vantagem
seletiva da consciência[1].
[1] Resenha
de “Consciência e seu lugar na natureza”, capítulo 4 (pp. 123-60) do livro A Redescoberta da Mente, de John SEARLE,
tradução de Eduardo Pereira e Ferreira, 2ª edição, São Paulo, Martins Fontes,
2006.
[2] No dia 19 de novembro de 2013, a versão original da resenha foi substituída por uma versão atualizada, que contém as seguintes alterações: na página 6, a palavra ‘mentalidade’ foi substituída por ‘consciência fenomênica’; 'estados mentais' foi substituída por ‘estados conscientes’; ‘crença’ foi substituída por ‘representação fenomênica’; ‘ausência mental’ foi substituída por ‘ausência consciente’ e ‘atividade mental’ foi substituída’ por ‘atividade consciente’.
[2] No dia 19 de novembro de 2013, a versão original da resenha foi substituída por uma versão atualizada, que contém as seguintes alterações: na página 6, a palavra ‘mentalidade’ foi substituída por ‘consciência fenomênica’; 'estados mentais' foi substituída por ‘estados conscientes’; ‘crença’ foi substituída por ‘representação fenomênica’; ‘ausência mental’ foi substituída por ‘ausência consciente’ e ‘atividade mental’ foi substituída’ por ‘atividade consciente’.
Caro Maxwell,
ResponderExcluirSeja muito bem vindo ao nosso grupo de pesquisa como também a este espaço que tem por principal objetivo possibilitar que pessoas curiosas sobre o assunto possam trocar ideias e discussões (mesmo não sendo profissionais da área!).
...
ResponderExcluirEu conheço bem o livro a Redescoberta da mente do Searle. Particularmente gosto muito do modo com que este autor trata das questões de linguagem (o que não é o caso de discutirmos agora). Entretanto, quando ele trata do problema da consciência creio que alguns problemas sérios ocorrem.
Minha maior briga é com o pluralismo epistemológico que ele apresenta, ou melhor, ele aponta mas não deixa claro o que é! Parece uma terceira via entre o monismo reducionista e o dualismo (seja ele qual for), mas não creio que ele consiga, de fato, argumentar e conceituar claramente o que seja este Pluralismo.
Outra briga que tenho é com o Argumento do Quarto Chinês, como o próprio Copeland já apresentou, ele comete uma falácia (Falácia das Partes para o Todo)...
Vamos conversando...
Professor Nivaldo
ResponderExcluirNão entendo exatamente o que o senhor quer dizer com pluralismo epistemológico.
Searle defende, metodologicamente, uma forma de abordar o problema mente-corpo, na qual:
a) rejeita determinadas formas de análise e classificação dos fenomenos mentais, como as teorias computacionais, reducionismo, etc
b) defende outra, evitando partir dos princípios (listados por ele de forma exaustiva e sistemática) que considera equivocados como pontos de partida para uma análise da consciência e "seu lugar na natureza".
Nesse ponto, ele me parece ser bastante coerente, atendendo a todas as condições que ele coloca.
Mas perceba-se aqui, que não estamos lidando com teorias da mente e da consciencia propriamente ditas, mas sim, com abordagens de caráter metodológico. Monismo, dualismo, fisicalismo, reducionismo etc, são disputas que pretendem classificar que tratamendo científico deve ser dar aos fenômenos mentais. São tendências interpretativas diferentes com relação a exatamente aos mesmos objetos de conhecimento cientifico.
Assim, por mais claro que ele seja, ele no máximo pode dizer a que requisitos uma teoria da mente deve atender, mas sempre, como todas as correntes, deixará uma série que questões em aberto.
Maxwell, quero lhe dar Parabéns pela sua resenha, de fato ela traz discussões acerca de temas de suma importância nos estudos da consciência. Os exemplos ressaltados nela a respeito por exemplo da subjetividade ontológica, ficam de fácil entendimento para quem não se aprofundou muito na questão até o momento. Além do mais os trabalhos de Searle são muito significativos para as pesquisas acerca da consciência. Quanto ao Quarto Chinês citado pelo Nivaldo, ainda não conheço o estudo do mesmo afundo, porém em termos gerais (correndo o risco de estar equivocada) tenho uma certa afinidade com as conclusões que se chega a partir desse experimento como você mesmo cita no seu artigo "O experimento de pensamento do quarto chinês: a crítica de John Searle á inteligência artificial" ressaltando a parte "apesar de um computador poder imitar o nosso pensamento ele não funciona como nossa mente" (MAXWELL, p.55, 2010). Assim sendo apesar de muitos contrapontos e incógnitas, Searle nós faz refletir acerca dos limites da inteligência artificial, e apesar dessa ter trazido importantes contribuições em termos de pesquisa, ainda a considero que ela se restringe no seu objetivo final.
ResponderExcluirSaudações a todos!
ResponderExcluirAntes de tudo, quero reafirmar a minha satisfação em poder participar do Grupo de Pesquisa!
Nivaldo, você poderia especificar um pouco mais o que é o pluralismo metodológico? Sei que ele distingue entre epistemologia objetiva (terceira pessoa) e subjetiva (primeira pessoa), mas acho que não deve ser isto.
Quanto a ser uma terceira via entre o monismo reducionista e o dualismo, podemos analisar o seguinte: como o próprio Searle faz questão de enfatizar, ele rejeita ser rotulado, e se é para falar de um 'ismo', que chame a sua concepção de naturalismo biológico. Dualista de substância ele não é, pois não há lugar para uma res cogitans em sua concepção. Uma possibilidade melhor seria o dualismo de propriedade e penso que há certas passagens que dão margem para interpretá-lo assim, já que o sistema 'cerebral' possui propriedades objetivas e subjetivas. Entretanto, ele escreveu um artigo intitulado 'Por que não sou um dualista de propriedade?'para negar tal interpretação. Portanto, poderíamos encaixá-lo, talvez, como sendo um fisicalista (redução causal) não-redutivo (irredutibilidade ontológica).
Eu não conheço o artigo do Copeland, mas tenho conhecimento da crítica da falácia das partes para o todo. Por favor, caso possua o artigo ou o livro do Copeland, envie-me...
Vitor,
ResponderExcluirSó para reforçar: Searle defende que a consciência é e não é redutível a fenômenos neurobiológicos! Ela é causalmente, mas não ontologicamente, redutível...
Natanna,
ResponderExcluirAgradeço os seus comentários e fico feliz que você tenha gostado do texto. O meu objetivo é produzir bimestralmente um texto com linguagem menos acadêmica e com a função de divulgação: inicialmente, farei pequenos resumos de capítulos de livros, mas depois pretendo me concentrar na análise de artigos publicados em revistas especializadas no assunto. No próximo texto, por exemplo, abordarei o(s) conceito(s) de redução(ões) no naturalismo biológico (capítulo 5 do livro 'A Redescoberta da Mente').
Abraço em todos!
Maxwell,
ResponderExcluirNão entendi muito bem o que vc quis dizer com
"Searle defende que a consciência é e não é redutível a fenômenos neurobiológicos!"
Como pode a consciência ser as duas coisas ao mesmo tempo?
"Ela é causalmente, mas não ontologicamente, redutível..."
Eu ainda tenho dificuldade em entender de primeira proposições que fazem referência à ontologia. O que se quer dizer exatamente? A princípio, isso me parece resgatar o dualismo de propriedades, mas creio que esteja errado, pois vc já disse que o próprio Searle já se pronunciou explicando que não se enquadra nessa proposta.
Ah, queria também mencionar que a parte que a Natanna citou é realmente muito relevante
ResponderExcluir"apesar de um computador poder imitar o nosso pensamento ele não funciona como nossa mente" (MAXWELL, p.55, 2010)."
Sempre que estou lendo sobre funcionalismo, posição cujos filósofos são a favor da I.A Forte, fico me perguntando se a possibilidade de as máquinas pensarem realmente significaria que descobrimos como nós mesmos pensamos. Aparentemente, uma coisa realmente não implica a outra. Pensando nos modelos de I.A. já propostos até agora (conexionismo, lógico-linguística, teste de Turing etc), percebo que eles dificilmente podem reproduzir todo que nossa mente pode fazer. Seria o caso de pensarmos que essas teorias são tão incompletas quanto as teorias da física, sobre o funcionamento das leis da natureza? Vemos que não existe uma Teoria de Tudo, apesar de alguns físicos defenderem que um dia a acharemos, mas que existem várias equações, cada conjunto delas descrevendo o funcionamento de um setor específico do universo, sem que enxerguemos muitas vezes uma continuidade lógica entre elas. Com a consciência e funcionamento da mente em geral, talvez não consigamos mesmo descrever o funcionamento global dela sob um princípio unificado, mas somente através de descrições modulares. Daí uma das razões que podem tornar a I.A. Forte inviável.
Felipe,
ResponderExcluirVOcê foi muito feliz em sua observação acerca da proposta de Searle em relação se a consciência é ou não redutível ao seu subtractum físico!
Concordo contigo... tenho a impressão que Searle foge deste problema... parece que ele deva enfrentar a questão de modo mais claro, caso contrário...seu ataque de que talvez ele esteja caindo numa contradição seja EVIDENTE!
Felipe (Sobre redução da consciência no Naturalismo Biológico):
ResponderExcluirPode-se dizer que a concepção de Searle tem umas 4 ou 6 teses centrais, a saber:
(1) Fenômenos mentais são fenômenos biológicos (tem que se ter cuidado aqui com o seguinte - Searle não nega a possibilidade de uma mente alienígena nem de uma mente artificial, mas deixemos isso para depois...);
(2) Fenômenos mentais são causados e realizados no sistema cerebral (caso queira, pode-se falar "sistema nervoso", mesmo);
(3) Fenômenos neurobiológicos são ontologicamente distintos de fenômenos mentais - respectivamente, ontologia de 3ª pessoa e de 1ª pessoa);
(4) Não expressabilidade dos termos que designam fenômenos mentais através dos termos que descrevem os fenômenos biológicos;
(5) Fenômenos neurobiológicos explicam causalmente os fenômenos mentais;
(6) As capacidades (ou poderes) causais dos fenômenos neurobiológicos são as mesmas.
(Continua...)!
Felipe (Sobre redução da consciência no Naturalismo Biológico - 3ª tese):
ResponderExcluirPara Searle, os fenômenos mentais podem ou não, dependendo do que se queira dizer, ser identificados nos processos cerebrais que os causam: se, por um lado, não há uma identidade entre tipos de estados mentais e tipos de estados conscientes; por outro lado, no entanto, existe uma identidade de espécime - isto é, estados mentais são CAUSALMENTE IDÊNTICOS a estados neurobiológicos. Sendo assim, os estados conscientes são apenas o nível superior, qualitativo e subjetivo dos processos cerebrais, NÃO SENDO POSSÍVEL IDENTIFICÁ-LOS DO PONTO DE VISTA ONTOLÓGICO, já que o mesmo evento possui diferentes características, a saber, características neurobiológicas e características fenomênicas.
Poder-se-ia perguntar, então, se os estados mentais são ou não redutíveis a estados cerebrais? A resposta para essa pergunta depende de qual conceito de redução se tem em mente, o de redução causal ou o de redução ontológica (na verdade, Searle afirma que existem 5 diferentes conceitos de redução usados em Filosofia...).
De acordo com o primeiro, fenômenos de tipo A são CAUSALMENTE REDUTÍVEIS a fenômenos de tipo B, se, e somente se, "o comportamento de A's for completamente explicado causalmente pelo comportamento de B's (leia-se: explicação causal), e, além disso, A's não devem possuir quaisquer poderes causais em acréscimo aos poderes de B's (leia-se: identidade de poderes causais. Pelo menos numa primeira leitura...).
De acordo com a redução ontológica, por sua vez, os fenômenos superficiais são ONTOLOGICAMENTE REDUTÍVEIS a fenômenos subjacentes se, e somente se, aqueles forem nada exceto estes.
O que complica, como você bem observou, é defender SIMULTANEAMENTE a redução causal e a irredutibilidade ontológica da consciência aos fenômenos neurobiológicos subjacentes!
Portanto, mesmo assumindo que a consciência é um fenômenos biológico (tese 1) como a fotossíntese, digestão ou mitose, Searle adverte que diferentemente destes, aquela é ontologicamente irredutível: "A consciência é inteiramente explicada causalmente pelo comportamento neuronal mas isso não significa mostrar que ela não seja nada além do que o comportamento neuronal". Por que isso é assim? Porque os fenômenos mentais possuem uma perspectiva única, que é a perspectiva de 1ª pessoa (possui um MODO DE EXISTÊNCIA subjetivo ou, em outras palavras, uma ONTOLOGIA [para ser um pouco redundante: modo de existência] SUBJETIVA).
Essa perspectiva subjetiva IMPOSSIBILITA redefinir a consciência em termos ontologicamente objetivos, como o são os termos neurocientíficos, sem perdê-la.
Enfim, os estados mentais só existem (ONTOLOGIA) quando são experienciados por um sujeito (SUBJETIVA): em todo o Universo, somente duas características não possuem uma ontologia de 3ª pessoa - a consciência e a intencionalidade. Já entidades como nuvens, montanhas e árvores são ontologicamente objetivas (ONTOLOGIA DE 3ª PESSOA), pois seus modos de existência são independentes de qualquer sujeito.
Pretendo publicar uma postagem no final de dezembro sobre o 5º capítulo d'A Redescoberta da Mente, e lá tentarei esclarecer um pouco mais o que Searle entende por redução.
Felipe (Sobre Dualismo de Propriedade),
ResponderExcluirVocê também tem razão quando afirma que Searle pode ser interpretado como um dualista de propriedade (na verdade, muitos especialistas em Filosofia da Mente o interpretam exatamente desta maneira!).
Por causa disso, ele escreveu um artigo intitulado "Why I Am Not a Property Dualist", que foi publicado no Journal of Conciousness Studies, 9, n. 12, pp. 57-64 (2002), para negar que defenda esta posição em Filosofia da Mente.
Ressalto que a relutância dele em ser assim rotulado não significa, necessariamente, que ele tenha sucesso nessa empreitada!
Para Searle, o dualista de propriedade defende que a consciência esteja acima e além do mundo físico, tese que ele afirma não endossar...
Felipe (Sobre a possibilidade de se produzir uma mente artificial),
ResponderExcluirÉ preciso deixar claro que Searle não nega a possibilidade de que possamos produzir uma mente artificial. Mais do que isso, produzir uma mente artificial não significa necessariamente "utilizar" o mesmo estofo de nosso sistema nervoso. Vamos por partes.
Para se produzir uma mente artificial, deve-se ter poderes causais EQUIVALENTES aos de nossos cérebros. A estrutura formal de programas de computador não possui tais poderes causais e, portanto, é insuficiente para produzir uma mente.
Nossas mentes possuem uma capacidade semântica e os programas de computador são totalmente sintáticos. Além disso, a SINTAXE É INSUFICIENTE PARA GARANTIR UM CONTEÚDO SEMÂNTICO. Segue-se do que foi dito que programas não são mentes.
Repito que isso não significa restringir o mental ao, digamos, "substrato biológico". O voo foi inventado muito antes de Santos Dumont. Na verdade, mesmo antes do Homo sapiens por os pés na Terra, insetos, pterodáctilos, aves e morcegos voavam paragens (e três desses grupos ainda o fazem).
Caso olhemos para a asa de um boeing ou de um caça, não veremos músculos, ossos, cartilagens, sangue, penas, pele etc. Se o substrato de asas biológicas e artificiais são diferentes, o que elas possuem em comum? Dica: poderes causais...
Portanto, posso construir uma mente artificial sem usar qualquer tipo de neurônio. O que Searle defende é que esta mente artificial deve possuir capacidades causais semelhantes ao de nosso cérebro, e que tais poderes causais estão ausentes em um programa de computador.
Sei que não respondi a todos os seus questionamentos, mas vamos nos falando...
Obrigado pelas perguntas e comentários!
Nivaldo,
ResponderExcluirRealmente há muitas críticas em relação ao experimento de pensamento do quarto chinês. Uma boa crítica, como você citou, é a da Falácia das Partes para o Todo!
Entretanto, penso que Searle tem um argumento mais forte contra o Cognitivismo. Este argumento é baseado na tese de que a computação é RELATIVA AO OBSERVADOR, e de que tudo que é característico da computação enquanto computação é EXCLUSIVAMENTE SINTÁTICO.
Este argumento foi resumido por Moural em 4 asserções:
(1) Computação é definida como sendo uma manipulação formal de símbolos (Observação: Essa é a definição padrão de computação. No entanto, existem outras maneiras de defini-la sem tomá-la como PURA manipulação simbólica. Caso isso se dê, isso constitui um sério obstáculo conceitual a este argumento...);
(2) Contudo, nem a sintaxe nem os símbolos são definidos nos termos da Física, ou seja, a sintaxe não é INTRÍNSECA à Física;
(3) Já que sintaxe e símbolos só possuem significado em relação a um observador, segue-se que também só pode ser atribuído sentido a uma computação diante de um observador;
(4) Portanto, segue-se que não podemos DESCOBRIR que qualquer coisa, inclusive o cérebro, seja intrinsecamente um computador digital, apesar de ser possível fazermos uma interpretação computacional acerca de tudo.
Para se compreender este novo argumento, deve-se ter em mente a distinção entre as características do mundo que são independentes e as que são dependentes do observador através de alguns exemplos (Observação: Nem todos, como, por exemplo, os funcionalistas, aceitam essa distinção). Objetos como átomos e moléculas possuem características, como a massa, que independem de um observador, enquanto mesas e cadeiras têm características, como suas respectivas funções, que são relativas ao observador (ou usuário). Átomos e moléculas INDEPENDEM de nossa existência e do que pensamos sobre eles. Já o SIGNIFICADO de objetos como mesas e fenômenos sociais como o casamento são dependentes do observador. Em geral, características que independem do observador são estudadas pelas Ciências Naturais, ao passo que as Ciências Sociais tratam de fenômenos que dependem do observador.
A partir disso, Searle faz a distinção entre os estados mentais de uma pessoa e os que são ATRIBUÍDOS a um computador: "Meu estado atual de consciência é totalmente independente do observador. Não importa o que alguém pense, eu estou consciente agora. Entretanto, as atribuições de estados mentais que eu faço ao meu computador são dependentes do observador".
Dessa forma, para Searle, os estados mentais conscientes dos animais (incluindo o homem, mas não todos os animais...) são INTRINSECAMENTE intencionais, enquanto que um programa de computador tem apenas uma intencionalidade COMO-SE, isto é, funciona apenas como uma metáfora em relação à intencionalidade do observador.
Feita essa distinção, pode-se analisar novamente as 4 asserções do argumento...
Abraços em todos!
Max.
Falo em Pluralismo epistemológico e não metodológico...OK!
ResponderExcluirEm minhas leituras do Searle muitas vezes ele aponta para algum tipo de terceira via. Uma abordagem que coloca questões como a consciência fora do que preconiza o materialismo, mas também, não admite nenhum tipo de dualismo! Até aí tudo bem... mas creio que essa outra abordagem fica bastante misteriosa. Não sei o que seria possível, em nível ontológico, entender acerca de tais realidades. Note, de modo mais claro, OU eu sou um monista OU sou um dualista (sinceramente creio que os dualistas de propriedades usam muito mais de recursos retóricos do que propriamente de argumentos consistentes para dizer que não são substanciais ou materialistas disfarçados!). Caso exista uma outra via... EU PERGUNTO: se ela não possui materialidade em nenhuma instância (característica monista materialista) e SE também não possui alguma propriedade do tipo COGITO CARTESIANO.... o que seria essa propriedade?!?!?
Neste aspecto é que digo que o Searle não parece conseguir esclarecer qual seria a TERCEIRA VIA!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCaro Maxwuel,
ResponderExcluirObrigado pela verdadeira aula que deu ao responder meus comentários! Me esclareceu muito!
"Para Searle, o dualista de propriedade defende que a consciência esteja acima e além do mundo físico, tese que ele afirma não endossar..."
Bom, aparentemente, a única diferença, de fato, entre a proposta de Searle e a de um dualista de propriedades é que o segundo alega que a consciência está num domínio diferente do do mundo físico, enquanto que o primeiro parece dizer que não. Entretanto, os dois parecem ter uma estrutura argumentativa muito semelhante! Divergindo somente na conclusão final. Isso me confunde um pouco - ainda estou caminhando dentro da filosofia da mente.
"Caso olhemos para a asa de um boeing ou de um caça, não veremos músculos, ossos, cartilagens, sangue, penas, pele etc. Se o substrato de asas biológicas e artificiais são diferentes, o que elas possuem em comum? Dica: poderes causais..."
Foi exatamente na analogia que pensei. Vemos esse tipo de coisa na natureza o tempo todo. Com os olhos é a mesma coisa. Achamos que "todo olho é um olho", mas na verdade, não. Todos tem a mesma função (ver), mas as diferentes espécies às vezes conseguem isso de maneiras bem diferentes. Faz sentido que com a mente seja a mesma coisa. Nesse sentido, será que realmente não podemos dizer que o computador possui um tipo de mente, mas uma mente bem diferente da nossa, uma mente que não possua poderes semânticos? (claro, considerando que não se tenha a semântica como um requisito essencial para considerar algo como uma mente).
Caro Maxwuel,
ResponderExcluirObrigado pela verdadeira aula que deu ao responder meus comentários! Me esclareceu muito!
"Para Searle, o dualista de propriedade defende que a consciência esteja acima e além do mundo físico, tese que ele afirma não endossar..."
Bom, aparentemente, a única diferença, de fato, entre a proposta de Searle e a de um dualista de propriedades é que o segundo alega que a consciência está num domínio diferente do do mundo físico, enquanto que o primeiro parece dizer que não. Entretanto, os dois parecem ter uma estrutura argumentativa muito semelhante! Divergindo somente na conclusão final. Isso me confunde um pouco - ainda estou caminhando dentro da filosofia da mente.
"Caso olhemos para a asa de um boeing ou de um caça, não veremos músculos, ossos, cartilagens, sangue, penas, pele etc. Se o substrato de asas biológicas e artificiais são diferentes, o que elas possuem em comum? Dica: poderes causais..."
Foi exatamente na analogia que pensei. Vemos esse tipo de coisa na natureza o tempo todo. Com os olhos é a mesma coisa. Achamos que "todo olho é um olho", mas na verdade, não. Todos tem a mesma função (ver), mas as diferentes espécies às vezes conseguem isso de maneiras bem diferentes. Faz sentido que com a mente seja a mesma coisa. Nesse sentido, será que realmente não podemos dizer que o computador possui um tipo de mente, mas uma mente bem diferente da nossa, uma mente que não possua poderes semânticos? (claro, considerando que não se tenha a semântica como um requisito essencial para considerar algo como uma mente).
Maxwell,
ResponderExcluirVc acha que o conexionismo é uma boa corrente para cobrir as dificuldades que se tem em estabelecer a mente como um computador digital?
Pergunto isso tendo em vista as críticas que Searle faz e também, ao fato de que eu considero um tanto MISTERIOSO também, dizer que a nossa mente é como um software instanciado por um hardware, o cérebro. Digo, admito que - pelo menos dentro da psicologia - esse argumento tem peso, em especial porque ele parece render bons experimentos e conclusões científicas, mas algo nesse projeto me incomoda. Então, aderindo ao conexionismo, daríamos uma base mais materialmente explicável, digamos, à mente.
O que acha?
A mente cognitiva é a que recebe nossa primeira e primordial atenção, pois estamos sempre atentos a nossos pensamentos, que são decorrentes dessa mente lógica e que, logicamente, se considera infalível! Ela é lógica, analítica e focada em algo: julgando, comparando, planejando, organizando, liderando, fazendo, e principalmente duvidando. É uma mente ativa, levando-nos a conclusões sobre nós mesmos que, vem do fundo de nosso subconsciente e, por vezes, nos impedem de tomar decisões apropriadas, de agir para nosso próprio benefício e o dos demais a nossa volta. É interessante entrar em contato com a questão da consciência humana. E, também, com os enormes esforços realizados por eminentes pensadores no sentido de propor hipóteses com objeto de estudo. Conforme as respectivas abordagens são geradas uma multiplicidade de encaminhamentos. A filosofia da mente é um delas. Sobre este assunto, é difícil se prender a uma única verdade, mesmo que a proposta seja relatada com tamanha qualidade como é exposta o assunto no blog.
ResponderExcluirRealmente é antiga dualidade mente corpo, ou matéria, espírito... Mas essa dualidade ainda não foi superada, não temos uma resposta... E cada um adota a escola de pensamento que lhe convir...
ResponderExcluir