22 de janeiro de 2018

CAUSALIDADE E INFORMAÇÃO INTRÍNSECA

Texto de Vitor Silva Tschoepke

A investigação da natureza dos processos mentais exige que se relacionem dois tipos de categorias: a informação e a causalidade. Se um observador é um interpretador da realidade, é alguém para o qual o mundo, e cada uma de suas relações possui significado. Se ele recebe informação do mundo, contudo, e a processa internamente em seu cérebro, uma rede de neurônios cuja comunicação se dá por processos eletroquímicos, então um processo neural se transforma em outro e em outro indefinidamente, e nessa medida, a quem além desse contínuo essa informação faz diferença?

Se um impulso cerebral é um evento causal que leva a outro em uma série indefinida, em que nível descritivo um estado do cérebro deixa de ser um simples emissor e se torna um receptor da informação? Da mesma forma, se considerarmos a integração do cérebro, elevando-se da perspectiva de neurônios individuais e estruturas, identificando padrões de interação em uma arquitetura que contempla o cérebro como um todo, o que temos além do fato de que uma configuração momentânea é diferente de outra? Se o processo mental é uma sucessão de estados e ao mesmo tempo é informação, como podemos correlacionar uma categoria com a outra?

Se informação é uma espécie de mediação na qual um evento se torna um tipo de leitura para o outro, então informação será sempre algo relativo a um observador. Mas como explicar em termos informacionais o próprio observador, isto é, como explicar que a informação “extrínseca” se torne “intrínseca”? Uma teoria com essa proposta precisará apresentar um modelo de como a informação surge na estrutura da realidade. Mas essa tarefa não pode ter êxito se não são adotadas premissas consistentes sobre a relação entre causalidade e informação, e desta as perspectivas “extrínseca” e “intrínseca”.

Primeiro vamos discutir uma posição segundo a qual existe um tipo de equivalência entre informação e causalidade, como aspectos complementares e coexistentes em sistemas físicos. E disso, se forem ambos em essência a mesma coisa, um estado descritível em termos informacionais possui então um aspecto relativo a um observador, extrínseco, e um próprio, intrínseco – de existência autônoma na natureza. Se a informação existe paralelamente à causalidade, na física, então todo evento causal possui um tipo de cognição primitiva. Essa proposta ontológica defendida por David Chalmers, é fundamento para a Teoria da Informação Integrada, de Giulio Tononi. Vamos colocar em questão tal premissa, assim como analisar se esta teoria consegue explicar como a informação cerebral se torna intrínseca. Como é o ponto de partida das duas teorias, será interessante passarmos antes a um breve resumo dos conceitos gerais da teoria da informação.

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Um comentário:

  1. Caros Amigos,

    Este texto é muito atual. Mesmo assim, não peca ao buscar por vezes nos clássicos fundamentos de suas propostas.
    Um texto que propicia muita discussão. O autor apresenta vários argumentos bem estruturados e coerentes em relação à proposta primeira de discussão.
    Interessados em Tecnologia, Informação a partir de uma reflexão com sério rigor filosófico certamente se interessarão!

    Boa discussão!

    Prof. Nivaldo Machado

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