2 de fevereiro de 2010

A CIÊNCIA EM XEQUE


O livro Introdução à Teoria da Ciência de Luiz Henrique de Araújo Dutra, como o próprio nome sugere, traz um rico panorama sobre os principais problemas da atualidade que instigam filósofos e epistemólogos da ciência.

O autor delimita a filosofia da ciência como sendo o estudo dos problemas epistemológicos relacionados com o conhecimento científico. E o primeiro dos problemas epistemológicos da ciência apontado por Dutra, diz respeito à necessidade de se consultar a experiência para dar crédito a uma teoria científica.

Para os empiristas lógicos, por exemplo, a experiência é essencial à atividade científica, pois é ela que pode verificar uma teoria científica. A dificuldade das teorias da confirmação, no entanto, é que elas estão estreitamente ligadas ao problema da indução.

Ao tentar solucionar o problema, Popper traçou um caminho diferente e criou a teoria que ficou conhecida como falseacionismo. Para o filósofo, nunca podemos provar que nossas teorias são verdadeiras, só podemos refutar teorias, provar que são falsas.

Tanto as teorias da confirmação, quanto a teoria da falsificação de Popper, consideram que existe progresso na ciência. Para os empiristas, quanto mais confirmarmos nossas teorias científicas, mas perto da verdade estaremos e, portanto o progresso da ciência acontecerá.

Já para Popper, quando refutamos uma teoria científica, temos a oportunidade de construir outra melhor. Dessa forma, o progresso da ciência se daria através de refutações, em um processo contínuo de eliminação de erros.


PROGRESSO CIENTÍFICO, EXISTE?
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Diante dessas discussões, alguns estudiosos da ciência como Thomas Kuhn começaram a perceber que a relação entre teoria e experiência era muito mais complexa do que podia parecer.

Kuhn questiona a própria idéia de progresso da ciência. Para ele, as tradições científicas se consolidam através de paradigmas. Os paradigmas, segundo Kuhn, são a imagem do mundo que guia a atividade dos cientistas que pertencem a uma comunidade.

Assim, a ciência não possui um único paradigma que fale sobre a natureza das coisas, mas vários já que cada comunidade possui o seu. Esses paradigmas rivais não podem ser comparados, pois possuem conceitos diferentes.

Quando, num determinado campo de investigação científica, um paradigma é abandonado e substituído por outro, acontece a revolução científica, na qual há um rompimento radical da nova tradição com a antiga. Kuhn compara essa situação a uma conversão religiosa, onde é preciso passar a ver o mundo com outros olhos.

Assim, como explica Dutra, as revoluções científicas postuladas por Kuhn afastam a idéia de progresso cumulativo dos empiristas lógicos, assim como também a própria idéia de Popper de um progresso através de refutações.

Esses aspectos relativos ao desenvolvimento da ciência apontados por Dutra, ajudam-nos a refletir sobre o quão complexa é a atividade científica.
...
Se é angustiante pensar que existem inúmeros problemas que a ciência ainda não conseguiu desvendar, a questão torna-se ainda mais perturbadora quando se descobre que a própria existência de progresso na ciência e o modo como ela chega às teorias sobre o mundo e sobre nós, seres humanos, também continuam em xeque.



Edição e texto: Rafaela Sandrini

6 comentários:

  1. O Livro do Professor Luiz Henrique dutra é um dos melhores livros de Introdução à Teoria da Ciência que já li em língua portuguesa. Com um estilo redacional preocupado com a clareza da disposição dos argumentos o autor consegue manter a seriedade e profundidade necessárias que a feitura da Filosofia exige.

    Quando li o tópico: "A ciência em cheque" admito que cheguei a ficar preocupado com o que leria a seguir. Por sorte não era mais uma daquelas especulações baratas que apresentam a ciência como sendo um fruto ideológico e político de classes dominantes que querem o mal de toda a Humanidade (acho que até comem criancinhas! rsrsss).

    Deixando o veneno de lado... discutir sobre as bases epistemológicas da ciência é fator NECESSÁRIO para que se possa fazer pesquisas no âmbito da Filosofia da Mente e das Ciências Cognitivas, tendo em vista que a ciência empírica, os aparatos tecnológicos e os "avanços"/"progressos" da ciência são elementos que fazem parte fundamental das discussões gerais acerca do problema mente- cérebro.

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  2. No primeiro e segundo capítulos do livro existe uma boa apresentação das teses fundadas em Popper e Kuhn respectivamente.

    Particularmente gosto do Pensamento de Fraassen que pode ser bem conhecido a partis da página 145 do livro do Prof. Luiz Henrique...

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  3. Impreterivelmente a discussão acerca das teorias da ciência se faz necessária para que possamos ter uma noção básica acerca de como se faz ciência, do que é a ciência, e das implicações que as respostas à estas perguntas tem no feitio da mesma.
    Precisamos mais do que nunca distanciarmo-nos das visões cotidianas - muitas vezes míticas - a respeito do cientista e do que ele faz. Se quisermos aprofundar qualquer estudo em Filosofia da Mente, temos de começar por entender o que é a ciência, e como ela funciona. Hoje é imprescindível que tenhamos este ocnhecimento, afinal, cada vez mais as pesquisas em Fil da Mente estão entrando em contato com as pesquisas e decobertas das mais diversas áreas do saber científico, e por este motivo, temos que estar muito bem a vontade neste âmbito do saber.
    O livro do prof. Dutra é uma excelente introdução a este tema, e tem por objetivo atender as demandas do ensino superior brasileiro, e sendo assim, procura abordar temas difíceis em uma linguagem acessível a este público não-especializado.

    um abraço
    Eduardo Benkendorf, graduando em Psicologia e aluno-pesquisador do grupo de pesquisa Filosofia da Mente e Ciências Cognitivas.!¡

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  4. Confesso que depois da leitura do livro fiquei um pouco atordoado. A quantidade de caminhos que fui introduzido me deixou “perdido”. As várias vezes que se entra e sai de um pensamento sobre epistemologia da ciência não deixaram nenhuma base para me sentir doutrinado pelo autor. O que foi fantástico. Senti-me livre para refletir e questionar qualquer um dos autores apresentados por Dutra. Mas muito pouco, muito pouco ainda para eu tomar alguma decisão nos caminhos da epistemologia. Bom, só resta o das pedras. Reler o livro, mas agora como guia, para buscar as bibliografias citadas e aprofundar no assunto, e torcer para que alguma vez na vida tenha a alegria de descobrir, pelo menos, uma vez, que esbarrei na realidade...

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  5. Semelhantemente me senti como o colega Guilherme, é incrível como vamos estabelecendo indagações, constatações e surpresas a cada página do estudo de Dutra, brilhante. Principalmente quem está em outras áreas (como eu, no Direito), que infelizmente no modelo educacional existente não calcamos caminhos nem construimos estrutura para estudar com afinco as questões da ciência, da atividade científica, da epistemologia etc., se torna interessante entendermos a ciência, entendermos que ela não está ai simplesmente para nos dar respostas exatas como muitos esperam, entendermos se ela depende de um progresso ou não, afinal mesmo quando não confirmamos, falseamos ou refutamos teorias científicas acredito que algum progresso neste caminho existe. A atividade que fazemos agora pode estar ou não colaborando com a ciência? Creio que sim, e assim vou crer sempre, e quero ter a capacidade de externar o que aprendo sempre, no intuito de levar a quem não viu, o encanto de estudar aquilo que pode ou não ser desvendável...estamos ai pra isso, fazendo jus ao que nossos estudiosos nos deixaram.
    Um bom 2010 a todos...e um abraço a todo o grupo!

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  6. olá , muito interessante o livro do Dutra, apesar de ser adepto da teoria de Popper, eu vi que muitas outras toerias, são interessantes e pode ser aplicada na disciplina que eu curso que é Educação Fisica. e como as pesquisas relacionadas em educação fisica e filosofia da mente são totalmente baseadas em pesquisas empíricas, pude perceber que o livro nos dá muita clareza nas diversas técnicas existentes.

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