3 de fevereiro de 2009

O que é...e o que não é Psicologia?


Para os leigos, responder a esta questão pode parecer nada desafiador. Um maneira simples de definir a Psicologia seria recorrer ao dicionário, que traz em seu cerne o conceito de uma disciplina científica, cujos estudos estão voltados para a mente – ou processos mentais – e o comportamento.
Conceituar a Psicologia poderia ser simples assim, não fosse a própria complexidade dos termos utilizados nesta definição. Afinal o que caracteriza uma disciplina científica? E como a Psicologia define mente e comportamento?

Psicologia: uma ciência?
_________________________________________________________


A história do desenvolvimento da Psicologia enquanto disciplina científica é uma história conturbada e marcada por uma enorme confusão conceitual. Desde que tentou se tornar uma disciplina independente, distanciando as discussões do âmbito filosófico e aproximando-as do âmbito científico, a diversidade tomou conta da Psicologia. Diferentes escolas do pensamento surgiram ao longo da história, cada qual com uma definição própria de objeto de estudo e de corpo teórico.

É esperado que uma disciplina legitimamente científica seja capaz de delimitar e definir precisamente o objeto de estudo. Desta precisão esperada, surge o primeiro problema para a definição da Psicologia como ciência. Se forem desconsideradas as idiossincrasias encontradas nas diversas “teorias psicológicas”, é possível dizer que de alguma forma todas tratam de investigar a mente e o comportamento.

No decorrer da história, no entanto, os psicólogos nunca chegaram a um consenso acerca dos conceitos de mente e de comportamento e até hoje não foi possível definir unívoca e precisamente o objeto de estudo da Psicologia.

Também é esperado de uma disciplina científica que ela seja capaz de delimitar e definir precisamente o seu corpo teórico. Cada disciplina constrói um conjunto de explicações a cerca de seu objeto de estudo que irão constituir a teoria central, ou seja, o paradigma. Este pode ser considerado mais um problema para a definição da Psicologia, pois enquanto ciência ela se encontra em um estágio pré-paradigmático. A Psicologia ainda não possui um paradigma, uma teoria unificadora da mente, ou seja, um corpo teórico que seja consenso entre seus pesquisadores.


Psicologia Científica x Psicologia Popular
_____________________________________________

Existe ainda uma questão que extrapola o âmbito científico. Acontece que os termos utilizados na Psicologia Científica são utilizados indiscriminadamente pelo senso comum. O que gera um intercâmbio terminológico que dificulta a diferenciação entre Psicologia Científica e Psicologia Popular.

Não é o caso de desconsiderar o conhecimento popular, mas é preciso estabelecer critérios de demarcação de âmbito, distinguindo o conhecimento produzido no âmbito científico daquele que é produzido no senso comum. E o Psicólogo precisa utilizar saberes e fazeres embasados cientificamente, caso contrário, não está fazendo mais do que a amiga que aconselha em uma mesa de bar.

A Psicologia enquanto disciplina científica tem ainda um longo caminho a percorrer, com enormes obstáculos a vencer. E é por este motivo, que a tentativa de definir a Psicologia, por mais simples que possa parecer, gera mais dúvidas e questionamentos do que respostas.


Texto deLuciane Simonetti e Patricia Luzia Becker

Edição Rafaela Sandrini



15 comentários:

  1. Quando me questiono sobre esse tema,me defronto perante outro questionamento:Se não sei ao certo o que é Psicologia,como saberei que profissional é um psicólogo com legitimidade? Busca-se conhecimento na academia para atuar nas diversas áreas da Psicologia sem sequer termos uma definição do que ela é.Dessa maneira é compreensível que tamanha complexidade traga descrédito para a área.

    Todavia,as bases teóricas sólidas não surgem no ambiente acadêmico?E as pesquisas atuais que fazem uso dos conceitos da Biologia Evolutiva, ciências cognitivas..E das mais modernas técnicas de neuroimagem para acrescentar dados até então não conhecidos?É coerente afirmar que todos esses estudos não apresentam a definição de Psicologia?A Filosofia da Mente tem inegavelmente destacado os questionamentos pertinentes:a Neurociência deixa a desejar?Pressupunha-se que a Psicologia deveria explicar o que os avanços neurocientíficos não atingem?

    O conceito satisfatório de Psicologia pode AINDA não estar formado, porém é fato que pessoas recuperam suas vidas fazendo uso dela, todos os dias. Profissionais sérios da área estão atentos a cada descoberta.

    Quanto a questão "O que é Psicologia"?Poderíamos responder relatando tudo o que já fora encontrado sobre a mente humana,e que fora comprovado, através da cura de determinados pacientes?Ingenuidade, seria pensar que tudo já pode ser explicado, e também que a Psicologia não funciona.

    Cabe a Filosofia da Mente nos instigar a questionar e a Tecnologia e Neurociência, além da própria Psicologia,através da interdisciplinalidade moldar os conceitos e auxiliar no progresso, na EVOÇUÇÃO da mente humana.

    ResponderExcluir
  2. Um dos grandes problemas que sempre enfrento que me vejo envolto com discussões acerca da Psicologia em geral é conseguir ter um conceito razoável do que venha a ser a própria psicologia.
    Durante a história do pensamento mais sofisticado (e nem tão sofisticado assim) da hmanidade muito do que não se sabia fora jogado para um lugar mágico/metafísico (não que tudo o que seja metafísico seja mágico.... mas que uma enorme quantidade de elementos são...isso são!). Entre estes elementos um dos campos que fora sempre marginalizado neste aspecto (principalmente devido a sua grande dificuldade e tb questões religiosas) foram os eventos pertencentes ao mental..... ou ao psicológico dos indivíduos.

    ResponderExcluir
  3. Muito bom o texto Lulu e Paty...

    Quanto a questão de a psicologia ser ou não uma ciência, acredito que ainda nao possamos respondê-la de forma tão clara. Desde o surgimento da psicologia até agora, a metodologia de pesquisa avançou consideravelmente no que diz respeito ao alcance das pesquisas. Acredito que a tecnologia dos dias atuais é um forte aliado da psicologia científica. Nenhum sistema é tão forte que possa resistir por muito tempo ao avanço das pesquisas, e se estas obtem bons resultados, que ponham em cheque as estruturas de uma psicologia não comprometida com a ciência, pouco a pouco a abordagem científica vai ganhando aliados e reconhecimento. Apenas ao final deste processo, quando os argumentos científicos forem aceitos pela maior parte dos psicólogos é que poderemos dizer que a psicologia é uma disciplina científica.

    ResponderExcluir
  4. Várias vezes tentei responder a mim mesma a esta pergunta, mas confesso que sempre fracassei e fico um tanto quanto desconfortável só de pensar. Inadmissível para mim, uma vez que estudo as teorias psicológicas e tudo o que nela circunda.

    Na verdade, fiquei me perguntando pragmaticamente por que é que é preciso responder a esta pergunta? Será que não estamos incorrendo sempre no mesmo erro quando tentamos explicar algo que ainda não tem estabelecido estavelmente seus parâmetros de análise, pesquisa e intervenção? Oras, primeiro vejamos se psicologia pode ser considerada ciência. Acredito que a pergunta a ser feita agora é: “o que é ciência?”, “será que a psicologia se enquadrada nos parâmetros da ciência?”, “a partir de que momento algo se torna ou deixa de ser ciência?”. Difícil responder. Mas necessário se quisermos avançar com as teorias e estudos que a psicologia vem desenvolvendo.

    O que podemos afirmar, a priori, é que desde a época de Leipzig, Wundt definitivamente trouxe ou pelo menos tentou trazer no cerne da psicologia parâmetros de cientificidade à psicologia, como conceitos, métodos e objeto de estudo. Quando ele se deu conta de que é necessário um nível basal de explicações científicas, a psicologia começou a caminhar. Entrou nos eixos? Acho que não. Teorias surgiram. Métodos. Objeto de estudo. Virou bagunça conceitual e metodológica.

    Como o Nivaldo apontou até com religião, metafísica já confundiram a psicologia. Foi isso o que teóricos acabaram fazendo, enterrando ainda mais o que fora por muitos construído.
    O que podemos fazer agora? Quem aceitaria arrancar do arcabouço teórico daquilo que consideram psicologia as teorias não cientificamente comprovadas?
    Será que vamos conseguir transformar aquela psicologia de HQ em algo irrefutável?
    Vamos tentar.

    ResponderExcluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  6. Várias vezes tentei responder a mim mesma a esta pergunta, mas confesso que sempre fracassei e fico um tanto quanto desconfortável só de pensar. Inadmissível para mim, uma vez que estudo as teorias psicológicas e tudo o que nela circunda.

    Na verdade, fiquei me perguntando pragmaticamente por que é que é preciso responder a esta pergunta? Será que não estamos incorrendo sempre no mesmo erro quando tentamos explicar algo que ainda não tem estabelecido estavelmente seus parâmetros de análise, pesquisa e intervenção? Oras, primeiro vejamos se psicologia pode ser considerada ciência. Acredito que a pergunta a ser feita agora é: “o que é ciência?”, “será que a psicologia se enquadrada nos parâmetros da ciência?”, “a partir de que momento algo se torna ou deixa de ser ciência?”. Difícil responder. Mas necessário se quisermos avançar com as teorias e estudos que a psicologia vem desenvolvendo.

    O que podemos afirmar, a priori, é que desde a época de Leipzig, Wundt definitivamente trouxe ou pelo menos tentou trazer no cerne da psicologia parâmetros de cientificidade à psicologia, como conceitos, métodos e objeto de estudo. Quando ele se deu conta de que é necessário um nível basal de explicações científicas, a psicologia começou a caminhar. Entrou nos eixos? Acho que não. Teorias surgiram. Métodos. Objeto de estudo. Virou bagunça conceitual e metodológica.

    Como o Nivaldo apontou até com religião, metafísica já confundiram a psicologia. Foi isso o que teóricos acabaram fazendo, enterrando ainda mais o que fora por muitos construído.
    O que podemos fazer agora? Quem aceitaria arrancar do arcabouço teórico daquilo que consideram psicologia as teorias não cientificamente comprovadas?
    Será que vamos conseguir transformar aquela psicologia de HQ em algo refutável?
    Vamos tentar.

    Quando conseguirmos, prova o que Popper propõe sobre falseabilidade.

    ResponderExcluir
  7. O problema principal não seria a ausência de uma definição, mas sim, a coexistencia de várias definições muitas vezes conflitantes. Uma espécie de "coração de mãe", sempre cabe mais um! O ideal é compreender como cada vertente explica seu objeto e se a metodologia por ele defendida é capaz de estudar esse objeto pelos parâmetros científicos. Se sim, ótimo, se não, descarte e passe para o próximo autor.

    ResponderExcluir
  8. Bom, a principio como leigo no assunto, eu não teria muitas ideias a formular a respeito, mas posso tentar algum palpite dizendo que a psicologia embora seje algo muito complexo de se estudar e entender, de certa forma pode ser algo simples e facil! A psicologia vem da mente diversificada, não há modelo especifico de pessoa, nem formula! Cada pessoa tem a sua subjetividade dificil de se entender! a psicologia, o fato de entender a mente, de evoluções, de conhecimentos nunca antes vistos. Meu respeito a vcs que entendem e estudam isso a muito tempo! Logo poderei usar a minha "ciencia" para explicar melhor!

    ResponderExcluir
  9. Diego,


    Pode não existir fórmula.....mas quanto mais pudermos chegar próximo a isso poderemos prever e, por conseguinte, ajudar em muitos casos!

    ResponderExcluir
  10. Posso dizer que Psicologia não é Matemática, História, Direito , Medicina, etc. Pois entendo ser uma ciência que estuda a mente e o comportamento humano.
    Poderiamos dizer então de forma simples que PSICOLOGIA é o estudo comportamental do ser humano, pois cada ciência é diferente e esta em busca de respostas, portanto, definir Psicologia não é assim tão simples pois o prórpio Descartes não soube discernir mente de corpo exatamente.
    Enquanto ciência busca entender o comportamento real e existente na mente, busca a razão de seus atos e pensamentos como forma de reagir e viver de cada um. Digamos tambèm que poderia ser o estudo de algo invisivel e imperceptivel mas com fatos concretos de sua existência, não é?
    Posso não saber explicar exatamente o que é ou não Psicologia mas posso afirmar com certeza que indiferente ao nome utilizado para definir esta teoria a Psicologia existe e no meu entender é utilizada para ajudar aqueles que a desconhecem parcialmente.
    Se vc tem um problema denominado psiquico (mente) e eu enquanto Psicólogo te ajudo a resolver, isto seria Psicologia? Ajudar o outro a pensar de forma coerente!
    No momento como leiga que sou é o que poderia definir como Psicologia.

    Primeira fase - UNIDAVI.

    ResponderExcluir
  11. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  12. Quanto ao objeto de Estudo da Psicologia...

    Realmente, acredito que o Objeto de estudo da Psicologia ainda não está definido, portanto a pergunta se realmente a Psicologia é uma ciência? é pertinente, já que para uma ciência ser conceituada como tal, necessita de fato, possuir um objeto de estudo específico.
    Digo específico, por que muitas teorias que fundamentam esta ciência defendem os seus Fenômenos Psicológicos como sendo o objeto, isso, acarreta em muitos problemas,já que se cada um possuir um objeto, irá haver contradições.
    Porém, é reconhecível que cada teoria possui uma "bagagem" de estudos,e muitos destes estudos não devem ser refutados.
    Penso que, todas as teorias tratam de fenômenos psicológicos que evidenciam para um objeto específico, cujo, por enquanto, ainda não se constituiu.
    Neste sentido, surge alguns questionamentos para reflexão: Será que o mais importante está na comparação de teorias? Náo seria melhor avaliar o que elas possui em comum ?(quando falo em comum, não trato de metodologia, mas sim de alguma característica encontradas em todas)
    Por exemplo, as relações, todo organismo estabelece relações com o meio, (sendo que meio, possui caráter biopsicosocial), em todas as teorias encontramos algum tipo de relação. O behaviorismo, por exemplo, o comportamento depende das relações, a Psicanálise, quando trata de inconsciente, mesmo voltando para história de vida, remete a relações, sistêmica, nem se fala!, teorias dos sistemas, onde um interfere no outro (relações), dentre outras...
    Bom, apenas uma questão para talvez ser levantada em outro tópico.

    Abraço!

    ResponderExcluir
  13. Ematuir,

    Sua preocupação é extremamente relevante!

    O problema é que relação é apenas um termo que nos auxilia na explicação de eventos. O que existe (e muito, infelizmente) na psicologia são abordagens altamente contraditórias (e isso sempre leva a perigosos caminhos que devemos evitar pelo simples motivo do bom senso...OK!).

    Mas sua busca por encontrar elementos que integrem as diversas teorias é sim uma proposta inteligente (muito difícil entretanto) mas.... com certeza uma boa aposta para podermos ter uma psicologia com seu grau de cientificidade e seu espaço devidamente reconhecidos (que é o que tenho certeza que todos concordamos!).

    ResponderExcluir
  14. muito legal gente entre no meu blog e saberas bjuss para todos

    ResponderExcluir

Bem-vindo à discussão!