21 de novembro de 2008

Ciência da Mente: Paradigmas e Mudanças


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Os campos que buscam compreender nossa mente e comportamento, se vêem imersos num empreendimento científico arrojado e possuem particularidades em relação a outros âmbitos da ciência. A mente humana, tão variável e maleável, complica imensamente a busca de princípios gerais da natureza humana.

O filósofo Thomas Kuhn argumentou que as teorias científicas modernas não são mais verdadeiras do que as teorias que elas desbancam, apenas diferentes. As teorias sobre a natureza humana, nunca morrem. É comum que velhas idéias sejam simplesmente recicladas ou reformuladas. A metafísica, por exemplo, é um paradigma que ainda persiste e causa mal-estar paara a filosofia moderna.

Como explica o filósofo da Universidade Federal de São Carlos João de Fernandes Teixeira, é ingenuidade positivista achar que a metafísica pode ser sepultada. “Fernando Pessoa disse que a metafísica é produto do mal-estar. Creio que a metafísica é algo pior: ela nos causa mal-estar. E que não é possível, para nós, livrarmos definitivamente desse mal-estar. De tempos em tempos ele reaparece” complementa o filósofo.



Embates Científicos
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Mas as revoluções científicas e os embates entre paradigmas são importantes para a ciências da mente. De acordo com o jornalista americano John Horgan, a belicosidade da ciência da mente a distingue de outros campos. Os estudiosos com freqüência se mostram mais empolgados não quando anunciam seus paradigmas favoritos, mas quando acabam com o paradigma alheio.


“Quando se trata de teorias sobre a natureza humana, os padrões das provas devem ser inversos aos que se aceitam nos tribunais. As teorias devem ser consideradas culpadas – ou seja, incorretas ou dúbias – até que sua correção seja estabelecida além de uma dúvida razoável”, complementa Horgan. A ânsia por verdades absolutas na ciência pode ter conseqüências perigosas. Um pouco de ceticismo e cautela quanto aos produtos da ciência é fundamental.


O filósofo Karl Popper tomou essa atitude e usou o critério da falseabilidade para demarcar a ciência. Nunca podemos provar que nossas teorias são verdadeiras, argumentou Popper. Só podemos refutar teorias, provar que são falsas. Portanto, todo conhecimento é experimental, provisório.


Sobre essa questão, Horgan afirma que ceticismo de menos nos deixa à mercê de charlatões vendedores de panacéias científicas. Ceticismo demais pode levar a um pós-modernismo radical que nega a possibilidade de chegar não só ao conhecimento completo de nós mesmos mas também a qualquer conhecimento. Mas a dose certa de ceticismo combinada a dose certa de otimismo, pode nos proteger da avidez por respostas enquanto nos mantém receptivos o bastante para reconhecer a verdade se e quando ela chegar.

Texto de Rafaela Sandrini

14 comentários:

  1. essa temática é muito boa e pode render muita discussão.. sempre que há uma mudança de paradigma há uma evolução, a teoria antes jovem e vigorosa começa a cair por terra, enquanto a nova teoria toma seu lugar...isso é sempre bom quando o avanço vem alicerçado em muita pesquisa e experimentação, e visto por este viés, as teorias mais recentes são mais corroboráveis do que as antigas, e sendo assim, devem ser adotadas. O perigo de interpretar que teorias antigas são tão verdadeiras E confiáveis quanto as mais recentes é o de ignorar a evolução das pesquisas e da tecnologia tiveram ao longo dos anos, desde o tempo da teoria antiga até a teoria moderna, e um exemplo disso pode ser encontrado na alquimia que agora evoluiu para a química, conforme evuluiram as pesquisas e a tecnologia evoluiu também a teoria, sendo que hoje ninguém mais acredita na alquimia. Assim também pode acontecer com as ciências da mente (ao menos deveria), quando uma teoria consegue superar outra, esta deve ser adotada em detrimento daquela, e este superar não é "tornar-se a teoria da moda" e sim "estar na vanguarda das pesquisas e alicerçada na ciência, e não na crença."

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  2. Rafaela,

    Para variar você nos presenteia com um texto muito inteligente!

    Talvez um pouco de Aristóteles seja mesmo necessário; o Meio-Termo, por vezes, é sábio.

    Tenho tambem uma crítica bastante calorosa quanto ao ceticismo infantil pós-moderno e, de modo mais especial, a toda e qualquer metafísica dogmática se insiste em aparecer na história. É perfeita sua colocação quando infere que a metafísica sempre acaba achando um espaço para aparecer independentemente do paradigma reinante no dado período.

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  3. O risco ao fazer Ciência, o desafio de pesquisar... Até que ponto se torna cabível admitir novos conceitos?É ingenuidade sim ignorar novas descobertas, mas o que provoca mal estar além da Metafísica é a concepção de Popper mencionada brilhantemente por Rafaela. Ao refutarmos idéias parecemos nos basear em algo sólido, inteligível.Todavia, o que questiono é em que momento a deixaria de ser viável, uma vez que ele mesmo alega que o conheciomento novo não é melhor, nem pior, apenas diferente. Inegavelmente tenho inclinação a considerar de forma explícita as descobertas atuais por motivos lógicos,todavia, cair em armadilhas conceituais em torno da metafísica se torna um riscorefutação ?De início isso estimula uma negativa pelo fato de a metafísica ter o princípio de sugestão não científica?Até que ponto essa cautela saudável em torno das pesquisas inibe os progressos científicos?Recentemente percebi o quanto é sutil a diferença entre o embasamento teórico consistente, e a muito bem escrita, porém refutável idealização Metafísica de alguns.

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  4. Rafa, como sempre, trazes um texto simplesmente genial.
    Lendo suas linhas tão bem traçadas por você, lembro perfeitamente do saudoso Popper afirmando que bons cientistas são aqueles que duvidam de suas próprias teorias. Isto significa que boas teorias são aquelas passíveis de refutação permanente ou temporariamente.
    Não sei se é realmente assim que acontece, mas misturar metafísica com ciência, não pode dar certo meeeeeesmo. Enquanto que uma permanece estagnada em pilares inconsistentes quando da explicação da mente humana, a outra se preza por realizações puramente científicas e empiricamente testáveis, mesmo quando a teoria ou experimento é refutado. Isto é fácil de notar quando a gente começa a perceber as colisões entre novos experimentos, o que acaba levando a ciência ao progresso.
    A revolução científica acontece exatamente quando novas teorias são introduzidas no meio científico. Tenho a impressão de que tem muita gente que adora a estagnação do que já foi investigado e toma a teoria desenvolvida como verdade única e irrefutável.

    Luciane Simonetti

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  5. "Os estudiosos com freqüência se mostram mais empolgados não quando anunciam seus paradigmas favoritos, mas quando acabam com o paradigma alheio."

    haeheahae

    haeheaheahae

    heaheaheahea

    E não é mesmo? Tem algo mais delicioso/proveitoso que acompanhar os debates dos grandes mestres? O próprio livro do João, que utilizamos como base, no guia entre as percepções e discussões diferentes de vários pesquisadores e pensadores da área, nos deixando fascinados-perplexos-confusos-mais sábios.

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  6. Oi Lu! =D
    O que vc quis dizer com algo "puramente científico"? Maríndia, o que seria esse sólido na sua frase: "o refutarmos idéias parecemos nos basear em algo sólido, inteligível."

    É interessante que, ao estudarmos Filosofia da Ciência e as próprias limitações da Epistemologia, bem como as inquietações de físicos e matemáticos, talvez possamos perceber que nossa experiência cotidiana não é tão "sólida ou inteligível assim", ou, que a ciência está sempre baseada em algum pressuposto filosófico, e que algo 100% científico talvez fosse impossível.
    Do pantano das incertezas não devemos pular ao deserto metafísico, mas simplesmente compreender que...... bem, talvez seja necessário suportar as incertezas.... e compreender que, no amago das questões.. é a postura filosófica que ditará suas regras.... e não as regras que ditarão sua postura filosófica..

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  7. Olá Nina!!!

    Usei o termo "sólido"justamente para considerar a ponderação recomendada ao adotar uma postura científica.Sabemos que há uma admirável determinação em fazer Ciência de fato,deixando as especulações/crenças para serem debatidas(pelos adeptos)em outro ambiente que não o científico. Assim temos a inclinação de perceber os resultados obtidos por cientistas, ou as idéias filosóficas que os inspiraram, como SÓLIDO conhecimento, e fazemos uso deste ao refutar o que fora por essa lógica, refutável. Entendo a cautela, a responsabilidade do método de Popper em considerar isso, mas ele mesmo com sua própria cautela e responsabilidade, alerta para o fato de que o as teorias são apenas diferentes, nem melhores ou piores.É isso que me intriga:oras, se refuto algo,dou a mesma valia a isso como dei ao que não refutei?Por que refutar se é apenas diferente?Compreendo a explicação de que algo não é apropriado a isto mas é àquilo... E então,eu refuto o que se adequar como refutável por meu "SÓLIDO",moderno, bem aceito lógico embasamento teórico?(quanto poder.. rsrsrs).Contesto ilusões,admiro o bom senso, mas me pergunto até que ponto isso é saudável para a evolução científica.. E quanto aos riscos?O preço pelo progresso?O erro, o acerto?Lógico, não estou sugerindo florais pra curar câncer, mas honestamente tenho receio da alienação, mesmo que seja a racional,ponderada..se é que existe alienação assim...nosso "sólido"conhecimento.O equilíbrio sim evidente, mas a sutileza desse ponto francamente me assusta, quando arriscar, o que refutar?Não me ressoa como tarefa fácil, apesar de divertida essa busca..rsrsrs

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  8. Prezados,


    Só um cuidado... a ciência, por vezes várias, necessita trabalhar com especulação e crença. Particularmente, defendo que ela nunca deixará de fazer isso, pelo simples motivo de ter que comunicar o que pesquisa. O grande problema é se tal comunicação é assim tão fácil (principalmente lembrando aqui dos nossos amigos Luiz, Rafaele e Caroline que estudam o Jornalismo Científico por exemplo).

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  9. "Os estudiosos com freqüência se mostram mais empolgados não quando anunciam seus paradigmas favoritos, mas quando acabam com o paradigma alheio."


    Desculpem senhores....mas isso é "Bão demais da conta" aehhaehaehaeeaheahhae

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  10. Nina,
    O meu "puramente científico" é algo que sempre arrisco afirmar para afastar das minhas discussões qualquer tipo de metafísica, psicologia de quinta ou teorias postas em prateleiras de HQ, huahuhauhuahuah...

    Na verdade, esta minha afirmação se entendida denotativamente pode trazer uma conotação um tanto quanto ingênua... ligada à uma espécie de "neurociência pura-ingênua", (aquela mesma história de sempre de que fazer experimento antes da teoria é furada).

    Mas gostei da sua indagação porque sei que devo tomar mais cuidado quando quero afirmar certas coisas. O sentido de puramente científico é mais para deixar claro que nós, cientistas, pesquisadores, estudiosos que se preocupam com o progresso da ciência precisamos ter pressuspostos teóricos-filosóficos bem definidos e consistentes para podermos desenvolver aquilo que denominamos Ciência.

    :)

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  11. Nivaldo

    Ao me referir à idéia de deixar a especulação/crença para serem discutidas em ambiente não científico, me refiro ao fato de que a predisposição cética é viável até certo ponto, não uma determinação.O que me pergunto é que ponto é esse? Afastar absurdos certo?Porém sabe-se que muito do que é absurdo em uma dada época,noutra já pode se tornar sensato. A comunicação mencionada por vc,é exatamente o que confere um cuidado, um zelo pelo que se considera. A questão para mim é exatamente essa:qual é o ponto que extrapola essa saudável comunicação que envolve risco; especulação/crença em nome da evolução científica,e passa a configurar uma idéia refutável.

    Não me parece claro o que desenha essa maleabilidade, isso honestamente me confunde.

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  12. Eduardo, concordo contigo quando dizes que a ciência evolui com as mudanças de paradigmas
    E mesmo tendo uma atitude um tanto quanto cética em relação à busca pela verdade absolouta na ciência, Popper admite que progredimos com os embates entre paradigmas.
    Segundo ele, o progresso científico ocorre por meio de suposições, de conjecturas. Estas conjecturas são controladas pela crítica, pelas tentativas de refutação. É possível que as teorias resistam às refutações, mas não podem nunca ser consideradas absolutamente verdadeiras.
    Aliás, as refutações são fundamentais na ciência. É dessa forma que somos capazes de propor soluções mais ponderadas ao problema que estamos tentando resolver.
    Popper também afirma que uma teoria que não possa ser refutada, não pertencerá ao âmbito da ciência. A irrefutabilidade ou falseabilidade não é uma virtude, mas sim um defeito e ajuda-nos a traçar uma linha entre ciência e pseudo-ciência. Ele usa o exemplo da Astrologia. Ela "formula suas interpretações de modo tão vago, que apresenta uma explicação satisfatória para tudo o quanto poderia ter constituído uma refutação da teoria. Para se furtarem à falsificação destroem assim, a testabilidade da sua teoria. Esta é, aliás, uma típica artimanha dos videntes: ao fazer previsões tão vagas que dificilmente podem falhar – tornan-se, por conseguinte, irrefutáveis." (Karl Popper)

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  13. Ola Parabens pelo blog ta cada vez mais interesante ler ele...

    Esse asunto pode render horas e horas de disculçoes,na minha opiniao as novas teorias ja estao ai ocupando o lugar da antiga.
    Nao querendo dizer qual é serta ou errada, mais sim diferente

    Felipe Laurentino.

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