11 de maio de 2015

Haverá lugar ainda para a Psicologia?

por Nivaldo Machado

Ao longo dos anos acompanhamos um número muito significativo de modelos paradigmáticos entendidos como perenes e explicativos das mais diversas abordagens teorizantes dos vários campos do saber. Neste âmbito, uma das principais preocupações da Filosofia da Mente e das Neurociências é servir de tribunal analisante das propostas que surgem, cada vez mais rápidas e em maior quantidade, tratando de temáticas correlatas ao campo de investigação da Psicologia em geral.

Assim sendo, a temática “Será a Psicologia substituída pelas Neurociências: uma análise a partir da Filosofia da Mente e da Filosofia das Neurociências” utilizará o método analítico para poder elaborar uma reflexão investigativa que também poderá se apresentar como elemento possibilitante de críticas acerca da atual conjuntura da psicologia, e, se esta ainda se mantém como uma área de conhecimento científico ou se foi e/ou será substituída pelos avanços neurocientíficos.

Ressaltamos aqui que, devido à variedade e extensão das abordagens psicológicas, daremos maior ênfase às posturas que entendem o fazer psicológico como advindo da prática científica. Chamamos também a atenção que um breve parecer crítico acerca da excessiva diversidade de abordagens psicologicistas será apresentado no presente estudo.

E, tendo em vista que esta é uma das pesquisas que se integram ao núcleo central de investigação do grupo de pesquisa em Filosofia da Mente e Ciências Cognitivas, não apresentaremos pareceres conclusivos acerca da temática, visto que ela faz parte de um trabalho maior que se desenvolve no referido grupo ao longo de mais de uma década de pesquisas. 

Alguns autores centrais perpassam direta e transversalmente nossa investigação. Dentre eles podemos destacar: Freud, Chomsky, Piaget, Watson, Dennett, Searle, Kim, Pinker, Davdson, Kant, Frege, Aristóteles, Platão, Sartre, heidegger, Husserl, Nietzsche, Dawkins, Darwin, Bacon, Wittgenstein, Kuhn e Popper.


20 comentários:

  1. Mas antes de entrarmos diretamente na discussão acerca do tema em pauta eu gostaria de que alguém me esclarecesse: AFINAL... DO QUE TRATA A PSICOLOGIA? QUAL É O SEU OBJETO E CAMPO DE ESTUDO E ATUAÇÃO?

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    1. Acho que não tem como dar uma resposta tão estanque, Nivaldo. É como conversamos já outras vezes: falamos constantemente em "a psicologia", mas dentro dessa área existem muitas frentes de estudos que se utilizam de métodos diferentes, objetos diferentes, pressupostos teóricos divergentes. Enfim, é uma verdadeira salada de frutas.

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    2. Concordo com o Felipe. Mas, se for pr'eu tentar dar uma resposta bastante genérica, a qual contemplaria boa parte do que todas as escolas da Psicologia fazem, eu diria que seu objeto de estudo é o comportamento, em suas várias apresentações e dimensões - sobretudo o comportamento humano, mas não apenas. No entanto, dizer isso não é dizer muita coisa a não ser que eu dê uma boa definição do termo "comportamento". Seguindo ainda essa linha generalista, e talvez me comprometendo com uma perspectiva meio funcionalista, eu diria que "comportamento" se refere a tudo aquilo que um indivíduo faz. Embora eu goste dessa noção, ela ainda é problemática, porque, por exemplo, um indivíduo secreta insulina pelo seu pâncreas, e a secreção desse hormônio está longe de ser um evento pertencente ao escopo da Psicologia. Travei aí na última vez que parei um pouco para refletir sobre o assunto, e, como quem não quer largar o osso daquela definição inicial, comecei a esboçar o seguinte: para se poder dizer que o objeto da Psicologia é o comportamento, seria preciso agregar uma cláusula à definição de comportamento sugerida anteriormente. E que cláusula seria essa? Foi aí que eu cheguei à ideia de que essa cláusula poderia estar amarrada à espinhosa noção de consciência. Explico. O comportamento, enquanto objeto genérico de estudo da Psicologia, seria tudo o que um indivíduo faz E QUE É OU PODE SER CONSCIENTIZÁVEL POR ESSE INDIVÍDUO. Ou seja, desde que um evento do/no indivíduo possa ser descrito no "idioma da primeira pessoa", aquilo é um comportamento, e isto é o que estuda a Psicologia. Eu havia ficado satisfeito com essa cláusula, mas não passou mais do que um minuto e meio até eu me questionar: "E o que dizer dos animais mais simples, com sistemas nervosos mais simples - eles são conscientes? Se não, ou se não podemos responder essa questão, deveríamos deixar os estudos desses animais a cargo dos biólogos, por exemplo, que descreveriam seu funcionamento em termos puramente biológicos?". Difícil responder a essa pergunta. Muitos estudos com condicionamento, por exemplo, que é um processo comportamental dos mais importantes, já foram conduzidos com animais muitíssimo simples (e esse tipo de estudo até já rendeu o Nobel ao Kandel). E eu travei nesse ponto.

      Alguém ainda poderia apontar acertadamente que eu estou deixando a noção do inconsciente - enquanto uma instância/maquinaria reguladora do comportamento em boa parte inacessível ao indivíduo, e que é a cereja do bolo para os psicanalistas - de lado. Foi aí que, meio que desviando do foco, eu passei a voltar minhas reflexões para o caso “inconsciente”. Cheguei a desenvolver algumas dessas reflexões em meu blog (http://danielgontijo.blogspot.com.br/), mas minha ideia final – ou provisoriamente final – ainda está sendo escrita num texto que devo lançar nas minhas férias de julho. Só pra resumir a conclusão da história, e para talvez botar lenha nessa fogueira, tô achando que devemos deixar o “inconsciente”, ou o que restou dele, pros neurocientistas.

      Pronto – parei de falar sem concluir muita coisa!

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    3. haha Gostei das suas indagações, Daniel!

      Mas me diga uma coisa: você se refere ao comportamento consciente em termos de consciência central ou de consciência ampliada (para usar os termos que o Damasio costumo empregar)?

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    4. Em qualquer uma delas, Felipe! É sustentável que vários outros animais tenham consciência, pelo menos a central, certo? Mas até o momento creio que a cláusula da consciência seja insuficiente para dar conta do caso. Vou pensar mais no assunto...

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  2. Nivaldo, após quatro anos e meio estudando psicologia, ainda não sei a resposta das suas perguntas, e nem de tantas outras, que inclusive discutimos no grupo de Pesquisa. Todavia, acredito que o que falta é justamente se estabelecer com clareza para todos, leigos, acadêmicos, profissionais... do que realmente trata a psicologia, o que realmente deve ser seu objeto e campo de estudo, e a partir daí, direcionar os trabalhos na área.
    Enquanto acadêmica e aluna-pesquisadora, em especial da psicologia cognitiva e da neurociência cognitiva, penso que ao invés da neurociência substituir a psicologia, é possível que ela se una a mesma, a fim de tratar com a maior completude os problemas de maior implicação mente-cérebro hoje, afinal Nivaldo, você acredita que será possível explicar todos os pensamentos, os comportamentos, as sensações, apenas por aspectos neurocientíficos um dia? É válido deixar claro, que não estou querendo dizer que a psicologia consiga, apenas, que talvez, isso deveria ser um objeto de estudo central para a mesma.
    Porém, visualizo essa realidade cada vez mais distante, uma vez que, boa parte das abordagens parece tornar cada vez mais a psicologia algo subjetivo, interpretativo e afastado da ciência.

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  3. Ótimo Post Nivaldo;

    DO QUE TRATA A PSICOLOGIA?
    Um tratamento é face a face, por doutrinadores, dos mais diversos ramos e campos. Escolher este profissional ideal é a fase mais importante para o paciente.
    QUAL É O SEU OBJETO;
    O objeto ligasse através da comunicação, entre o profissional e o paciente, para uma prévia avaliação; que por muitas vezes é reindicado a outro profissional, para pareceres moleculares, ou outros.
    O diagnóstico é uma das etapas do objeto, que o campo de estudo investiga auxiliando profissionais experts.
    O campo de estudo e atuação também é uma das etapas do objeto, que o profissional investiga auxiliando e investigando estudos para o “parecer ou laudo”, correto; através de um time especializado.
    Por décadas, os trabalhos de Freud foram desenrolados e hoje graças a investigadores internacionais, os casos que necessitem de suporte de natureza conceitual, são fórmulas despojadas, que trazem alívio e prazer na vida dos mais diversos pacientes.
    É surpreendente como a academia de letras do Brasil ainda desfigura a informação correta na hora da tradução para o vernáculo.
    Edson Stofela

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    1. O problema é que sua resposta limita a psicologia à clínica. :)

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  4. OI, não entendi porque Sartre, Heidegger, Husserl, Nietzsche fazem parte dos autores ali citados.

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  5. Everton,

    Pois são autores que perpassam diversas abordagens psicológicas.... só por isso!

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  6. Felipe sua resposta é para mim? Edson Stofela ? .

    E estamos falando de um título : Haverá LUGAR ainda para a Psicologia?; fundamente algo mais concreto, para que eu possa abordar o "problema e a limitação"; sem ferrugem, se é que este corresponde ao meu comentário.

    Um Grande Abraço Felipe,

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  7. Felipe,

    Essa SALADA DE FRUTAS é que, para mim, causa graves problemas estomacais!!! São frutas demais.... e, muitas delas, não combinam em nada juntas!

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  8. Daniel,

    Quando inferes que: "E QUE É OU PODE SER CONSCIENTIZÁVEL POR ESSE INDIVÍDUO. Ou seja, desde que um evento do/no indivíduo possa ser descrito no "idioma da primeira pessoa""....

    O problema vai ser em como tratar (em nível teórico e também de saúde) algo que está em nível de primeira pessoa! Isso impossibilita a comunicação (e seus sintomas, por exemplo). Esse comportamento concientizável deve, pelo menos em alguma instância, ser público para ser passivo de tratamento (até mesmo com remédios!!!)....

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    1. Bom apontamento, Nivaldo! Normalmente, contornamos a privacidade com esses "colaterais públicos" (e.g., expressões faciais, prosódia, postura corporal etc.), para usar uma expressão de Skinner, e, também muito importante, com o comportamento verbal. Ou seja, desde que o indivíduo aprendeu a nomear seus eventos privados (sentimentos e pensamentos, basicamente), a descrição desses eventos é um importante meio que temos para "conhecê-los". Com efeito, muitos instrumentos usados para medir processos privados são questionários de auto-relato, onde o indivíduo assinala, por exemplo, por quanto tempo e em qual frequência ele sente dores de cabeça e tristeza ou pensa em suicídio. Esses dados quantificáveis permitem análises estatísticas interessantes. Existem também os testes de habilidades usados para medir o desempenho das pessoas em várias tarefas intelectuais. O desempenho nesses testes indica a presença de processos privados necessários à resolução dessas tarefas, os quais podem ser razoavelmente isolados a partir de testes específicos e com o auxílio de técnicas estatísticas sofisticadas. Ultimamente, o imageamento cerebral vem auxiliando na validação/corroboração de inúmeras hipóteses previamente levantadas pela psicometria - mas no questionamento/falseamento de algumas delas também.

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  9. VERBORRAGIA......
    VERGONHOSO ISSO........

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    1. Poste seu nome, foto ....e venha nos ensinar! Terei grande vontade em aprender para não cometer mais erros tão grosseiros!

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  10. Olá pessoal da psicologia. Legal ver essa discussão. Agora tenho uma pergunta, o cognitivismo computacional é até certo ponto aceito como base teórica para a psicologia? Ou seja, o modelo computacional da mente, tipo IA forte.

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    1. A psicologia geralmente não se situa nesse problema pensando em IA Forte ou Fraca. Ela só entende que sim, o cognitivismo pode ser (e é) entendido em termos computacionais. Em geral, os psicólogos não tem noção desses meandros teóricos intrincados.

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  11. Olá pessoal, também gostei da discussão e estou entrando para a área de Neurociência Computacional. (só para causar mais problemas).

    Mas deixo uma pergunta intrigante: esse assunto aqui, mesmo que informal, se constitui o que? Filosofia da Psicologia? Rsrsrs..

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