Texto de Desidério Murcho
É comum falar em argumentos
dedutivos, opondo-os aos indutivos. Este artigo procura mostrar que há um
conjunto de aspectos subtis que devem ser tidos em linha de conta, caso
contrário será tudo muito confuso.
Antes de mais: a expressão
"argumento indutivo" ou "indução" dá origem a confusões
porque se pode ter dois tipos muito diferentes de argumentos: as generalizações
e as previsões. Uma generalização é um argumento como
Todos os corvos
observados até hoje são pretos.
Logo, todos os corvos são pretos.
Logo, todos os corvos são pretos.
Numa generalização parte-se de
algumas verdades acerca de alguns membros de um dado domínio e generaliza-se
essas verdades para todos os membros desse domínio, ou pelo menos para mais.
Uma previsão é um argumento como
Todos os corvos
observados até hoje são pretos.
Logo, o próximo corvo que observarmos será preto.
Logo, o próximo corvo que observarmos será preto.
Uma pessoa imaginativa e com vontade
de reduzir coisas — uma síndrome comum em filosofia — pode querer afirmar que
podemos reduzir as previsões às generalizações via dedução: a conclusão da
previsão acima segue-se dedutivamente da conclusão da generalização anterior.
Não acho que isto capta de modo algum a natureza lógica ou conceptual da
previsão, mas isso não é relevante neste artigo. O que conta é que, mesmo que a
previsão seja redutível à generalização mais dedução, continua a ser um modo
comum de falar e uma parte importante do nosso pensamento.
Numa veia ainda reducionista, algumas
pessoas poderão querer dizer que todos os outros tipos de argumentos não
dedutivos se reduzem à generalização e à previsão. Assim, não valeria a pena
falar de argumentos de autoridade, por exemplo, que são argumentos como o
seguinte:
Einstein afirmou
que não se pode viajar mais depressa do que a luz.
Logo, não se pode viajar mais depressa do que a luz.
Logo, não se pode viajar mais depressa do que a luz.
Uma vez mais: pode ser que este tipo
de argumentos seja redutível à generalização e à previsão. Mas é útil
compreender que este tipo de argumentos tem exigências próprias e portanto é
útil falar deles explicitamente, ainda que se trate de um tipo de inferência
redutível a qualquer outro tipo ou tipos.
Dados estes esclarecimentos, importa
agora esclarecer o seguinte: O que é um argumento dedutivo? E como se distingue
tal coisa de um argumento indutivo?
Vou começar por dizer o modo como não
se deve entender estas noções. A primeira coisa a não fazer é pensar que um
argumento dedutivo se caracteriza por ser impossível a sua conclusão ser falsa
se as suas premissas forem verdadeiras. Pensar isto provoca confusão porque
significaria que não há argumentos dedutivos inválidos. Porquê? Porque só nos
argumentos dedutivos válidos é impossível a conclusão ser falsa se as suas
premissas forem verdadeiras; nos argumentos dedutivos inválidos, nas falácias
(como a afirmação da antecedente, por exemplo) é perfeitamente possível as
premissas serem verdadeiras e a conclusão falsa.
Em termos rigorosos, não há problema algum com esta opção; significa apenas que estamos a dar ao termo
"dedução" força factiva, como damos ao termo
"demonstração". Do mesmo modo que não há demonstrações inválidas,
também não há, de acordo com esta opção, deduções inválidas. Se é uma dedução,
é válida; se é uma demostração, é válida. Uma "demonstração" inválida
nada demonstra; uma "dedução" inválida nada deduz.
O primeiro problema desta opção é
exigir a reforma do modo como geralmente se fala e escreve sobre argumentos
dedutivos — pois é comum falar de argumentos dedutivos inválidos, como as
falácias formais (por oposição às informais). Este problema não é decisivo,
caso não se levantasse outro problema: o segundo.
O segundo problema é o seguinte: Dado
que todos os argumentos são dedutivos ou não dedutivos (ou indutivos, se
quisermos reduzir todo o campo da não dedução à indução), e dado que não faz
muito sentido usar o termo "dedução" factivamente e o termo "indução"
não factivamente, o resultado bizarro é que deixa de haver argumentos
inválidos. O termo "argumento" torna-se factivo tal como os
termos "dedução" e "indução". E isto já é demasiado
rebuscado; as pessoas não usam mesmo o termo deste modo, nunca; passamos a vida
a falar de argumentos inválidos. E faz todo o sentido que o façamos, pois se
adotarmos o entendimento factivo do termo um "argumento" inválido
não é de todo em todo um argumento: é apenas um conjunto de proposições.
É sem dúvida possível aceitar o resultado
bizarro, e passar a usar o termo "argumento" factivamente. Mas se
tivermos a possibilidade de o evitar, de forma fundamentada e reflectida,
estaremos a facilitar as coisas — sobretudo ao nível do ensino.
E temos possibilidade de evitar este
resultado bizarro, e manter o uso de "argumento" de tal modo que faça
sentido falar de argumentos inválidos, de deduções inválidas e de induções
inválidas. Para o fazer temos de distinguir cuidadosamente a noção de argumento
(dedutivo ou não) da noção de validade (dedutiva ou não). Podemos, claro, usar
um termo diferente para a validade não dedutiva, e reservar o termo
"validade" para a validade dedutiva, mas esta é uma mera opção
terminológica: tanto faz. O que é crucial é poder dizer que um argumento é dedutivo,
apesar de inválido, ou indutivo, apesar de inválido. E como se faz isso?
Apresentando os argumentos dedutivos
como argumentos cuja validade ou invalidade depende exclusivamente da sua forma
lógica; e os argumentos não dedutivos como argumentos cuja validade ou
invalidade não depende exclusivamente da sua forma lógica. Evidentemente, isto
não se aplica a todos os argumentos dedutivos, mas esta é uma complicação que
esclareceremos dentro de momentos. Para já, vejamos alguns exemplos:
Se Sócrates era
ateniense, era grego.
Sócrates era grego.
Logo, era ateniense.
Sócrates era grego.
Logo, era ateniense.
Se Sócrates era
ateniense, era grego.
Sócrates era ateniense.
Logo, era grego.
Sócrates era ateniense.
Logo, era grego.
O primeiro argumento é inválido. Mas
qualquer argumento indutivo, ainda que válido, sofre deste tipo de invalidade
dedutiva. Devemos então dizer que os argumentos dedutivamente inválidos não se
distinguem dos argumentos indutivos válidos? Claro que não, dado que eles se
distinguem muito claramente uns dos outros.
O primeiro argumento é dedutivamente
inválido porque a sua invalidade pode ser explicada recorrendo unicamente à sua
forma lógica. Mas seria uma enorme falta de sensibilidade lógica abandonar uma
indução boa com base no facto de a sua forma lógica e a verdade das suas
premissas não garantir a verdade da sua conclusão.
Assim, um argumento é dedutivo ou
indutivo em função da explicação mais adequada que tivermos para a sua validade
ou invalidade. Um argumento dedutivo inválido explica-se adequadamente
recorrendo unicamente à sua forma lógica, no sentido em que a sua forma lógica
é suficiente para distinguir os argumentos dedutivos inválidos dos válidos; o
mesmo não acontece com os argumentos indutivos, pois a sua validade ou
invalidade não depende exclusivamente da sua forma lógica.
Deste modo, podemos manter a tradição
de falar de argumentos dedutivos e indutivos; e podemos dizer que há argumentos
dedutivos inválidos; e não somos forçados a aceitar que todo o argumento
indutivo, por melhor que seja, é sempre um argumento dedutivo inválido. Isto
não acontece porque os argumentos dedutivos nunca são indutivos, ainda que
sejam inválidos. Porque o que conta é o tipo de explicação adequada para a sua
validade ou invalidade.
Em termos primitivos, pois, o que
conta é a validade e invalidade; há diferentes tipos de validade e invalidade:
a dedutiva e a indutiva. E os argumentos são dedutivos ou indutivos consoante a
sua validade ou invalidade for dedutiva ou indutiva.
É agora tempo de esclarecer que nem
todos os argumentos dedutivos dependem exclusivamente da sua forma lógica; há
argumentos dedutivos de carácter conceptual, como "O João é casado; logo,
não é solteiro". Não é difícil acomodar estas variedades de dedução não
formal no esquema aqui proposto: tudo depende da melhor explicação disponível
para a validade ou invalidade em causa.
Podemos assim continuar a falar de
argumentos dedutivos e indutivos, validos ou inválidos. E os argumentos
dedutivos inválidos nunca são uma subclasse dos argumentos indutivos.
Nota: Agradeço a
Ricardo Santos, que levantou dúvidas relacionadas com este tema em conexão com
o modo como no manual A Arte de Pensar as noções de argumento
dedutivo e indutivo são apresentadas. Também Álvaro Nunes fez alguns comentários
relacionados que me levaram a tentar esclarecer este tema.
Desidério Murcho (desiderio@ifac.ufop.br)
Argumentar é sem dúvida um dos trabalhos fundamentais da Filosofia. Não só argumentar como também verificar se existem condições para que uma dada disposição de proposições que impliquem em uma conclusão sejam, de fato, um argumento. Verificar sua validade e invalidade é fundamental. Lembrando que, grosso modo, a validade e invalidade é um critério dos argumentos (dedutivos de modo geral). todavia, a verdade ou falsidade está ligada a correlação entre a proposição e seu conteúdo. Isso não resolve todo assunto, mas, já é um bom começo para nossas discussões!
ResponderExcluirExcelente texto!
ResponderExcluirComo não sou especialista no assunto, peço desculpas por qualquer equívoco no respectivo comentário. Porém, gostaria de compartilhar e discutir um pouco sobre as inferências, visto que a pouco tempo assisti a um vídeo do Canal “Minutos Psíquicos” que versava sobre discursos falaciosos principalmente utilizados por políticos, o qual me chamou muita atenção ao tratar sobre o problema das INFERÊNCIAS no caso de falácias.
Dado que as falácias não possuem coerência lógica, no vídeo em questão, é exposto que comumente ao extrair conclusões de premissas, acabamos por fazer inferências inadequadas.
Exemplo:
Passar mal ao comer frutos do mar por duas vezes seguidas.
Talvez não passe mal ao comer a terceira vez.
Todavia, é razoável pensar que possa passar mal na terceira vez e preferir não comer.
A premissa consiste nas duas vezes em que a pessoa passou mal.
Nesse caso ao reconhecer o padrão (comer frutos do mar e passar mal), infere-se que comer frutos do mar consiste em passar mal (futura possibilidade de acontecer), obtendo-se assim uma conclusão.
Assim, conforme é sugerido no vídeo, as falácias abusam desse tipo de raciocínio, moldando conclusões que são retiradas a partir de um conjunto de premissas, o que pode ser visto com bastante frequência no cotidiano.
Então, ao meu ver as inferências acarretam uma série de problemas e equívocos para as pessoas de modo geral que não possuem recursos para identificar as falácias, todavia, em alguns casos elas podem estar corretas se pensarmos por exemplo, que realmente a causa de dada pessoa passar mal consiste em comer frutos do mar, já que foi comprovado a sua verdade por exames médicos, porém, mesmo que isso seja verdade, ainda me gera certo desconforto chegar a tal conclusão através de premissas como “a pessoa passou mal duas vezes ao comer frutos do mar” visto que apenas foi uma previsão com acentuado grau de sorte (ao meu ver), que se comprovou por outros meios (exames médicos) posteriormente.
Olá Natanna,
ExcluirAs falácias são parte interessante da lógica, vista de uma maneira mais ampla, incluindo aí o que se chama lógica informal ou pensamento crítico.
Tipicamente se caracteriza uma falácia como um argumento que parece bom mas não é, sendo usado para enganar nosso interlocutor, levando-o a acreditar que uma dada conclusão segue-se de certas premissas, quando na verdade tal coisa não ocorre.
Nossa capacidade para identificá-las é uma carta na manga quando estamos argumentando ou debatendo ideias com alguém.
Parte do que é necessário para saber identificar corretamente uma falácia está em saber com precisão o que é um bom argumento, i.e. um argumento válido com premissas verdadeiras e mais plausíveis do que sua conclusão.
Além disso, muitas vezes é impossível determinar apenas do ponto de vista formal se um argumento é ou não uma falácia. É aí que entra nossa habilidade em avaliar argumentos. Esta habilidade precisa ser treinada como qualquer outra habilidade. Treinamos ela discutindo ideias com alguém que já saiba fazer isso. Ou lendo manuais de Lógica Informal ou Pensamento Crítico.
um abraço
Natanna,
ResponderExcluirNote que interessante... todavia, seguindo teu exemplo... Se uma pessoa comer centenas de vezes estes tais Frutos do Mar E, sempre que comer, passar mal... tenho a impressão de que não seja uma boa ideia comer novamente esse mesmo fruto!
Parece, grosso modo, que aumentando a testabilidade, parece que, dado a repetição dos efeitos, que aumenta também o grau de veracidade da INFERÊNCIA!
A dúvida que parece surgir é: Aumentando a testabilidade a falaciosidade diminui (é claro, mantendo o resultado em todos os testes realizados!)???
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirConcordo com você, Nivaldo! A testabilidade parece ser uma opção bem interessante... todavia, se a testabilidade for critério para diminuir a falaciosidade, quantos testes são necessários? Esse número se aplica a todas as situações semelhantes? É possível isolar para testes apenas o objeto em questão (frutos do mar), visto que, o que pode gerar o mal estar na pessoa pode estar ligado a outros alimentos que a mesma ingeriu coincidentemente nos dias em que comeu os frutos do mar, ou mesmo a algum problema exclusivamente fisiológico do qual a mesma ainda não possui conhecimento...
ResponderExcluirNatanna,
ExcluirEm nível lógico, me parece que eu posso isolar sem grandes problemas. Todavia, a efetivação disso em testes empíricos, já é bem mais complicado isolar completamente uma variável de modo a termos certeza de que seus resultados não serão alterados de modo algum por outra variável qualquer (conhecida, possível de ser conhecida, existente e impossível de ser conhecida!)
Que todo o esforço para pensar conceitualmente os termos e bem designá-los de modo a evitar ambiguidades ou erros de "interpretação", seja capaz de contribuir de forma pragmática junto ao sujeito hipotético quando diante de circunstâncias argumentativas que exijam uma reflexão mais burilada e cautelosa, de modo a chegar ao justo juízo sempre que seja possível.
ResponderExcluirPragmaticidade junto ao Sujeito Hipotético?! Creio ser bastante difícil tendo em vista talvez a possibilidade infinita destes Sujeitos!
ExcluirE não entendi qual a implicação disto em relação aos Justos Juízos... tendo em vista que questões éticas não possuem implicação direta com o tema aqui abordado (pelo menos segundo meu ponto de vista, OK!)
A dedução é a operação mental sobre noções e idéias de alto nível de universalidade, enquanto que a indução, sobre a nossa experiência imediata e concreta elevada ao nível de generalização. Mas o pensamento só pode considerar o específico em contraposição à generalidade, o exemplo em contraposição à classe, de forma imediata e simultânea. Não faz sentido buscar a universalidade mais alta em uma coleção de experiências, seja tão vasta quanto for. Fodor (The language of Thought) postulou uma teoria semântica (dos símbolos de uma linguagem mental) baseado na indução, mas sua proposta é falha. Somente com categorias de pensamento já universais o específico como pode, mesmo, ser pensado como tal.
ResponderExcluirVitor, não estamos aqui tratando a dedução e a indução como processos mentais de raciocínio supostamente usados por pessoas reais. "Dedução" e "indução" estão aqui sendo usados da maneira como se usa tais termos em lógica clássica. É uma outra abordagem e a discussão do artigo acima postado está direcionada para este segundo sentido dos termos. Se há qualquer relação relevante entre este sentido técnico dos termos e aquele sentido psicológico descrito por você é algo que não está de saída estabelecido.
Excluirum abraço
A diferença entre dedução e a indução é análoga àquela entre racionalidade e irracionalidade. A ideia de racionalidade vem de "razão", ou divisão. Um número racional é aquele resultado da divisão entre dois inteiros, e mesmo se for fracionário, com muitas casas decimais, pode ser representado em uma expressão completa. Os irracionais, por outro lado, não são resultado desse tipo de operação, e se estendem indefinidamente, tais como a diagonal do quadrado, a que tanto se referia Aristóteles, ou o mais famoso, o Pi. Esses números não podem ser completamente apreendidos em uma expressão, pois seus dígitos se estendem ao infinito. Eles estão, por isso, além da possibilidade de expressão, ou, "além da razão". Da mesma forma, podemos fazer um "cálculo racional", refletir sobre um problema considerando elementos bem estabelecidos e bem definidos, ou, utilizando neste procedimento elementos dos quais o a representação completa não está à nossa disposição. Uma proposição sobre Deus será sempre um pouco irracional, porque não temos como saber exatamente do que estamos tratando, qual é a sua natureza última. Um axioma, ou um teorema, por outro lado, são os elementos/desenvolvimentos lógicos mais "racionais", por somente conterem noções perfeitamente definidas. Tratando de afirmações do ponto de vista indutivo, sempre somos limitados a uma coleção de amostras limitadas no tempo, realizando um cálculo que se justifica apenas provisoriamente.
ResponderExcluirNão me parece que sua analogia entre dedução e indução, por um lado, e racionalidade e irracionalidade, por outro, seja pertinente nos aspectos relevantes. Vou me ater apenas a este ponto. Para lembrar, estamos aqui usando os termos "dedução" e "indução" no seu sentido técnico empregado em lógica clássica. Veja, neste sentido técnico que está se usando o termo no texto postado acima, não há qualquer ligação relevante entre uma dedução ou indução e a racionalidade ou irracionalidade. Tome o caso da indução. Ela é apenas um aparato lógico ou matemático usado para se estabelecer uma conclusão com base em certas premissas. Computadores podem executar este processo. Computadores no entanto não são, no entanto, tipicamente, considerados racionais ou irracionais. Talvez seja impossível um computador ser racional ou irracional. O mesmo se aplica à dedução. Os relata de racionalidade e de irracionalidade são crenças. Estados mentais doxásticos. i.e. apenas crenças podem ser racionais ou irracionais. Alguém precisa ter estas crenças. São estados mentais. Já as deduções e induções que estamos tratando aqui não são estados mentais. São aparatos matemáticos. Portanto, a sua analogia não é pertinente nos aspectos relevantes.
ExcluirSe a analogia é pertinente, então "dedução" e "indução" são processos mentais.
Mas "dedução" e "indução" não são processos mentais.
Portanto, a analogia não é pertinente.
acho que é mais ou menos por aí...
https://www.youtube.com/watch?v=-wrCpLJ1XAw
ExcluirVitor e Eduardo,
ResponderExcluirCreio que nossa discussão está ficando interessante!
Eu, em relação ao Eduardo, já tenho a um bom tempo apresentado minha preocupação com essa delimitação aparentemente precisa e que muito ajuda na apresentação de um problema lógico. Deixo claro que não sou um lógico (mesmo não gostando de admitir (em nível pessoal quando em postura intelectual!). Entretanto, o que o Vitor apresenta, pelo menos o que eu estou percebendo, é que ele busca uma aproximação entre problemas naturais (relativos aos estados mentais/cerebrais...) em relação às problematizações lógicas.
SE eu estiver, pelo menos aproximadamente correto, creio que abdicar da `participação` natural em relação ao problema da indução/dedução, possa ser algo que devêssemos, em algum momento, nos preocupar...
hehehe
ExcluirVamos deixar claro que não tenho nada contra a aplicação do aparato lógico e matemático para tratar de problemas empíricos, como aqueles tratados pela física, psicologia, biologia, etc. Na verdade penso que isso seja essencial para se fazer ciência de verdade, ao invés de meros relatórios de pesquisa.
Mas uma coisa é fazer engenharia e outra é fazer matemática/lógica.
Ao se discutir certos aspectos da filosofia da lógica/matemática temos de ter muito claro o sentido técnico dos termos assim como empregados nestas disciplinas.
hehehe...pra ti também Eduardo! (risos fortes!)
ExcluirVitor,
ResponderExcluirQuando apresentas " o pensamento só pode considerar o específico em contraposição à generalidade"... poderias deixar um pouco mais claro isso?
Vitor,
ResponderExcluirTambém tenho meus problemas com Fodor... a sua modularidade é bem estranha! Mas, "categorias do pensamento [já] universais...". Você está aceitando o mentalismo como critério para o problema (também lógico) da indução e/ou dedução?
Caro Eduardo
ResponderExcluirO texto trata de indução/dedução do ponto de vista da lógica formal, mas essas questões também tem importantes consequências epistemológicas e metafísicas. A falseabilidade de Popper, por exemplo, é uma teoria epistemológica, mas sua inspiração, especialmente em Hume e Kant, é amplamente metafísica.
Indução/dedução, mesmo tratadas como definições lógicas, descrevem operações entre idéias que só podem ocorrer dentro da cabeça de alguém. Computadores realizam séries de operações elétricas, mas eles não fazem deduções/induções. Mesmo que alguém discorde disso, somente poderá tentar refutar isso usando argumentos metafísicos, a lógica formal aqui não tem nada a acrescentar.
E isso não significa que esse tipo de análise seja psicológica. Afinal, um dos problemas centrais da filosofia da mente é como idéias objetivas e gerais sobre a realidade cosmológica podem ser instanciadas em uma mente individual e baseada em uma estrutura biológica com textura de borracha.
Vitor, discordo de alguns pontos do que você escreveu mas concordo que há diferentes abordagens para se tratar de deduções e induções. Acho particularmente interessante o problema de se saber se as deduções da vida real, que as pessoas executam podem mesmo ser representadas ou captadas pelas estruturas formais como a lógica clássica, etc. Saber por exemplo se os conectores verofuncionais que usamos para formalizar um argumento em lógica de predicados de primeira ordem realmente captam o seu significado no argumento original apresentado em língua natural... são realmente questões que não se pode passar ao largo!
ExcluirVitor e Eduardo,
ResponderExcluirNão sei até que ponto é possível afirmar tão categoricamente que computadores (robês, ciborgues, androides...) não podem realizar induções e deduções!
Notem, uma vez publicamente observável o processo e/ou os resultados que impliquem na ATITUDE dedutiva/indutiva... torna-se irrelevante saber em que base fora instanciada!
Certamente Nivaldo, não apenas podem como fazem deduções e demais operações matemáticas e lógicas a todo segundo. Já afirmei isso em um comentário anterior. Há inclusive certas provas matemáticas -- e aqui estou usando novamente "prova" no seu sentido técnico, muito forte -- que foram feitas por computadores das quais há quem diga que nenhum ser humano vivo poderia ter feito!
Excluirsó para emendar,
Excluirveja só que ironia... tais provas matemáticas de altíssimo nível, provadas por e exclusivamente por computadores usam nada menos que o método da *indução matemática*, que segundo alguns dos melhores pesquisadores da área "é muito mais segura do que a dedução da lógica cláasica"(que está em causa no artigo que estamos discutindo)...
E quem criou os computadores?
ExcluirUm computador é um ábaco melhorado.
ExcluirBEM melhorado!
ExcluirSobre quem criou os computadores. Bom... creio que isso é simples... os serres humanos (Charles babage e mais alguns por aí). Mas, não entendi a relevância disso.
ExcluirO que posso afirmar é que, em diversas atividades (entre elas resoluções matemáticas como citadas pelo Eduardo) são em diversos casos muito melhores resolvidas por um computador do que por uma pessoa.
E não existe, pelo menos que eu conheça, nenhum argumento suficientemente irrefutável (ou pelo menos impossível de ser atacado) que apresente que o ser humano nunca possa, por exemplo, vir a ser criado por computadores e suas tecnologias. Muita gente opta por dizer que a vida é o fator diferencial, mas, não faço a menos ideia do que seja vida!
[...] Precisamos dizer ao script o que fazer depois. Lembre-se de que os computadores são burros, você precisa dizer o que fazer em cada situação. [...]
ExcluirRetirado de "Programando em Shell Script" http://www.hardware.com.br/guias/programando-shell-script/variaveis-comparacao.html
http://news.mit.edu/2015/computer-system-passes-visual-turing-test-1210
ExcluirHence Turing proved that Hilbert's Entscheidungsproblem was unsolvable. Hilbert's dream was shattered: any consistent axiomatic theory sufficiently rich to enable the expression and proof of basic arithmetic propositions could be neither complete (as Gödel had shown) nor effectively decidable.
Excluirhttp://www.philocomp.net/home/hilbert.htm
Caro Professor Nivaldo
ResponderExcluirSobre Fodor, tenho uma série de objeções às suas teses, em especial à teoria da linguagem dos pensamentos. Embora a crítica à questão computacional (o problema sintaxe/semântica) seja importante, já foi exaustivamente tratada por autores como Searle.
Minha objeção central é ao problema da mediação, comum a muitas versões das teorias representativas. Como um processo cognitivo pode ser dividido entre um símbolo, e uma entidade separada para a qual esse seja significativo? Isso somente transfere o problema, deixando sem explicar o que se pretende, a cognição. O professor J. Teixeira tem um texto sobre isso, no qual mostra que um modelo representativo sempre exige um "complemento" extra-representativo.
Vitor,
ResponderExcluirAgora concordo plenamente com você. O professor João Teixeira pesquisa conosco e já tive o prazer de discutir exatamente este ponto com ele. Os representacionistas parecem que, em algum momento, cairão num círculo vicioso; um looping da representação da representação da representação...
Professor
ResponderExcluirEmbora esse seja um problema de fato do modelo, do paradigma, a ideia de representação em si não pode ser ignorada. Creio que existe uma forma de resolver esse problema, e isso passa por se atender a duas condições:
a) a generalização da transição entre representações fazer parte da representação.
b) a representação e o expectador serem unificados nesse processo de generalização.
Olá Vitor,
ResponderExcluirMuito interessante suas colocações e discussões no blog!
Caso tenha interesse, nosso Grupo de Pesquisa Filosofia da Mente e Ciências Cognitivas está de portas abertas!
Novos membros são bem-vindos!
Abraço.
Prezada Natanna
ExcluirFico muito honrado com o convite! Como devo proceder? Meu email é centuriatus@gmail.com
Muito Bem Natanna,
ExcluirQue o Vitor seja bem vindo ao time! (só lembrando que é necessário ter o currículum lattes atualizado, ok!)
Vitor, Nivaldo e Eduardo.. apenas para meter a colher em alguns pontos:
ResponderExcluir- computadores promovem indução quando, tendo parte do problema conhecido e a parte essencial do problema (com solução) modelado (em sua base), busca promover a adaptação da solução (como se tivesse conhecimento do todo) - o algortimo mais comum chama-se "vizinho próximo" (Nearest Neighbor) (Michie, 1994)
- computadores promovem dedução, sobretudo quando usamos provadores de teoremas (esse tem muitos algoritmos acadêmicos e de mercado)
Egon, obrigado pelas informações. Você com certeza é autoridade aqui para discutir tais assuntos.
Excluiro que você achou sobre o caso do computador que passou no teste de turing? qual a real relevância disso na área?
Ficou feliz em ter você aqui conosco neste debate.
um abraço!
Meu nobre amigo Egon.... e lá se vão quase quinze anos da primeira reunião de nosso Grupo de Pesquisa!!!
ExcluirÓtimo texto . Alto nível.
ResponderExcluirEgon e demais,
ResponderExcluirTive recentemente uma grande discussão quando apresentei que não me parece tão claro (considerando aquilo que é passível de ser partilhado/observado publicamente, ok! Vou insistir sempre muito nisso!) dizer que os seres humanos são privilegiados em relação aos computadores no que tange aos mais diversos aspectos; para nosso caso, não sei se posso dizer que realizar deduções/induções por computadores é algo impossível ou que é algo diferente das mesmas deduções realizadas/instanciadas em seres humanos!?
Caro Eduardo
ResponderExcluirNão resta a menor dúvida que a ciência da computação têm nas últimas décadas conseguido resultados fantásticos. A questão que precisamos enfrentar cientificamente é a seguinte: não podemos pegar um que um computador faz, e o que uma pessoa raciocinando faz, e dizer que está ocorrendo a mesma coisa. A ciência deve tratar cada processo natural dentro de seu conjunto de circunstâncias.
E o teste de Turing é simplesmente um exercício analógico, e não uma explicação causal. O teste se baseia na avaliação de alguém de fora crendo estar diante de uma pessoa, quando está diante de um robô, ou seja, é satisfeito com uma condição extrínseca, de aparência. Mas isso não oferece uma descrição de quais propriedades (intrínsecas, necessárias e explicadoras) um robô deve possuir para se equivaler às capacidades cognitivas de uma pessoa, já que ele não faz ideia de quais são essas propriedades.
O teste se propõe, no máximo, a dizer que tais propriedades podem ser irrelevantes. Um engenheiro poderia, por exemplo, desenvolver um C3PO perfeito na sua garagem, e mesmo assim isso não acrescentar absolutamente nada no problema da mente e da consciência.
Existe uma interpretação radical da abordagem computacional que, seguindo essa tradição, diz que não existe de fato nenhum problema profundo relativo à natureza da mente e da consciência, já que são todos problemas computacionais. Mas se não houvesse, não precisaria existir esse blog, poderíamos entender que é tudo uma questão de achar os algoritmos certos, e encerrar o assunto.
Vitor,
ResponderExcluirQuando afirmas: " Mas isso não oferece uma descrição de quais propriedades (intrínsecas, necessárias e explicadoras) um robô deve possuir para se equivaler às capacidades cognitivas de uma pessoa, já que ele não faz ideia de quais são essas propriedades." .... É interessante também notar que, pelo menos na maior parte do tempo nós (os ditos seres humanos) também não fazemos a menor ideia acerca das nossos próprias propriedades intrìnsecas envolvidas, OK!
vamos conversando... talvez, de fato, a existência deste blog não seja mesmo necessária! Isso já valeria a pena a existência dele ;)
Talvez seja um problema de formulação nesta frase, mas "ele" se refere à pessoa que faz menção ao teste, ou o postula.
Excluirmesmo que um robô tive-se uma inteligência artificial dotada de todas as lógicas e capacidade de avaliar como certo e errado fazendo assim o seu critério de analisar e agir baseado no seu banco de dados... faltaria a ele as emoções e os sentimentos como critério de analise ...minha humilde opinião
ResponderExcluirsub-zero, como você chegou nesta opinião?
ExcluirMuito interessante: palestra de John Searle para o Google, em 2015, sobre consciência e inteligência artificial. https://www.youtube.com/watch?v=rHKwIYsPXLg
ResponderExcluir