Hodiernamente a feitura da filosofia
da mente encontra-se em estreita ligação e, por vezes, em confronto com os
feitos das mais avançadas inovações científicas/tecnológicas. Nesse contexto, o
breve ensaio aqui apresentado tem por escopo geral focar num dos temas que
ocupam filósofos e cientistas das mais diversas abordagens: a linguagem no
mundo pós-humano.
Durante a realização do VII Simpósio
Internacional PRINCIPIA realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina -
que tinha como temática geral a obra de Nelson Goodman - os estudos realizados
pelo antropólogo Jean Segata que aplicava alguns dos princípios goodminianos
aos trabalhos antropológicos que lidavam com a escrita acerca de humanos e
não-humanos e os trabalhos desenvolvidos pelo filósofo Nivaldo Machado em seu
grupo de pesquisa em Filosofia da Mente e Ciências Cognitivas acabaram por propiciar
o início de alguns debates.
Agora, para o VIII PRINCIPIA,
decidimos apresentar algumas reflexões e ensaios resultantes desse debate.
Embora a neurociência tenha avançado de modo incontestável nas últimas décadas,
principalmente depois da já conhecida década do cérebro dos anos 90, e dos
avanços computacionais terem permitido lidar com uma gama informacional
que, até então, se colocava como um entrave para a demonstração da
eficiência e funcionalidade de diversos artefatos mecatrônicos e robóticos de modo até paradoxal, tais avanços criaram novos problemas e novas teorizações
para antigas reflexões filosóficas. Assim, nesse breve ensaio pretendemos
apresentar:
(i) que o vocabulário
mentalista nunca será eliminado por completo devido aos avanços das
neurociências e das ciências computacionais;
(ii) que o vocabulário
mentalista não precisa admitir nenhum tipo de dualismo (seja ele de
propriedades e/ou de substância) e se adequa a uma postura monista-materialista;
(iii) que o vocabulário mentalista também
evolui através de um processo adaptativo aos moldes darwinianos;
(iv) que a evolução do vocabulário
utilizado para conceituar os diversos termos necessários para a clareza dos
argumentos das diversas teorias é algo inerente à própria natureza da linguagem
humana. Tal variação evolutiva decorre justamente em relação da necessidade:
(a) de sofisticação conceitual, e (b) de economia explicativa;
(v) que o vocabulário mentalista possui
uma variação em graus de sofisticação em perfeita consonância com a Folk
Psychology;
(vi) que o vocabulário mentalista não
possui variabilidade em relação ao substractum em que ele
esteja sendo executado: humano/artificial - desse modo os
elementos que sustentam a permanência dos termos úteis e econômicos do
mentalismo permanecem com seus princípios inalterados num horizonte de eventos
em que humanos, androides e outras formas artificiais que façam uso da
linguagem (co)existam.
[1] Professor Doutor em Filosofia pela
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Coordenador do Grupo de Pesquisa
em Filosofia da Mente e Ciências Cognitivas. Membro do Grupo de Pesquisa em
Filosofia da Neurociência e Neurofilosofia.
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ResponderExcluirMuito bom o texto. Despertou uma curiosidade. Segundo Darwin o ambiente é quem seleciona os indivíduos, os que possuem características que os tornam mais aptos a viverem no local, sobrevivem, e estas características são passadas através da reprodução. Visto a proposta de que o vocabulário mentalista também evolui através de um processo adaptativo aos moldes darwinianos; e tomando a ultima questão proposta no texto, se estas formas artificiais dotadas do vocabulário mentalista forem criadas, quais seriam os aspectos que forçariam a evolução dos mesmos? e essa evolução seria mais rápida que a de nossa especie, supondo que talvez esse tipo de inteligencia seja capaz de prever possíveis motivos que forçariam a evolução, e essa evolução seria rápida pois diferente de um ser vivo, tais características não precisariam ser passadas pelo gene. Sei que parece meio que ficção, e se eu estiver falando bobagem peço desculpas e peço ainda que expliquem o porque de não ser bem esse o raciocínio a ser tomado. mas já que to na chuva vou me molhar mais um pouco. Em uma discussão Richard Dawkins perguntou a Stephen Hawking se no futuro haverá gênios científicos em um mundo de super computadores? Stephen Hawking respondeu que sim, visto que os computadores não conseguem dar grandes saltos na imaginação, modificando a visão de como é o mundo. porem maquinas que utilizam o mesmo vocabulário mentalista do seres humanos, seriam capazes de tal feito, vendo dessa forma, faço minhas as palavras do Dawkins, no futuro haverá gênios científicos em um mundo de androides e outras formas artificiais que façam uso da linguagem?
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ResponderExcluir"... quais seriam os aspectos que forçariam a evolução dos mesmos?"
ResponderExcluirTal como o comportamento ao longo da vida de um indivíduo, práticas culturais variam e são selecionadas conforme suas consequências/efeitos. Robôs evoluiriam gradativamente conforme suas competências em solucionar os problemas colocados pelos humanos. A variação na tecnologia robótica equivale às modificações pontuais feitas em cada laboratório isolado, modificações estas que podem gerar efeitos diferenciais diante de certos desafios: jogar xadrez, varrer a casa, listar produtos de uma prateleira etc. Quando uma máquina que se distingue um pouco das demais consegue ser mais competente em certas funções, sua tecnologia é REPLICADA em laboratórios em todo mundo, e gradativamente observamos o aumento de frequência daquele "traço". Em vez de sobreviver e procriar, "satisfazer melhor nossas demandas" seria um critério importante para a evolução de "robôs sapiens".
Quanto a suas outras questões, prefiro não me aventurar!
Abraço!
Daniel,
ResponderExcluirConcordo com o que você falou, sendo que em minha opinião, só será valido para maquinas cuja inteligência é pré-programada pelos humanos, um computador só joga muito bem xadrez porque em sua memoria contém dados que correspondem a jogadas. No caso de um Robô sapiens, não seriam funções pré-programadas, mas sim uma capacidade cognitiva, que o deixaria livre para "pensar" por conta própria, (Nivaldo, me corrija se eu estiver errado quanto a isso) logo, o mesmo não teria apenas os problemas impostos pelos homens, mas os seus próprios problemas. Nossa espécie se manteve ao longo dos tempos, devido grande parte ao instinto de sobrevivência de nossos genes. E minha pergunta foi justamente para achar parâmetros que forçam uma adaptação e compara-los com os mesmos que se aplicam aos humanos.
Abraços...
Como ficariam os critérios para a definição da inteligência artificial em um mundo pós-humano e com supostos "robô-sapiens"?
ResponderExcluir"(ii) que o vocabulário mentalista não precisa admitir nenhum tipo de dualismo (seja ele de propriedades e/ou de substância) e se adequa a uma postura monista-materialista;" Ok,mas se for possível reduzir tal vocabulário a uma postura monista-materialista acredito que poderíamos afirmar que tal vocabulário entraria em desuso pois não existiriam mais dualismos e tudo seria reduzido a substancias materiais, logo, o vocabulário "perderia sua função" pois iria se tornar eminentemente materialista. Ou não?
Amigos,
ResponderExcluirUm dos problemas que o Filósofo da mente deve se preocupar é em esclarecer alguns problemas que estão aparecendo hoje em dia acerca deste novo mundo PÓS-HUMANO.
O que entendo ser interessante refletir é que termos como:
a) Pós-humanidade;
b) Artificial;
c) evolução/adaptação
d) Linguagem
São apenas alguns termos fundamentais para tratarmos de modo sério estes problemas. O que está ocorrendo e que é muito perigoso é que brotam por todos os lados livros e artigos apontando para estas questões sem apresentarem um trabalho sério de clareamento de questões fundamentais para que se possa passar de um mero discurso literário geral para um trabalho realmente filosófico.
Creio que darmos ênfase aos princípios ontológicos, lógicos e epistemológicos sejam fundamentais!
Notem, falar em pós-humano é algo que ainda estamos praticamente engatinhando. Sinceramente, nem sei ao certo se é possível a utilização desta expressão. Não sei como é possível um ambiente completamente fora da complexidade orgânica poder evoluir, adptar-se, e, pior, ter linguagem!
Vamos tentar avançar um pouco mais devagar, mas com teses um pouco mais seguras.... Mas é claro, este espaço aqui, como a muito tempo advogo, não é um ambiente para o refinamento que o trabaslho filosófico exige, todavia, é um bom espaço para problematizarmos e ousarmos dar algumas opiniões (mais ou menos sofisticadas).. .
Boa noite pessoal!
ResponderExcluirPrimeiramente, gostaria de parabenizar o Nivaldo pelo texto, muito genioso!
Elizeu,surgiu-me uma dúvida:
Neste caso,seria possível afirmar então que neste mundo pós-humano os robô-sapiens comunicar-se-ão essencialmente através de uma postura monista-materialista? (Peço desculpas se a pergunta não vem ao caso, mas que despertou curiosidade,despertou!).
Concordo com todas as proposições, à exceção da "vi". As primeiras cinco proposições ressaltam a independência lógica (por assim dizer) em termos descritivos dos estados internos descritíveis por um vocabulário mentalista, isto é, dos estados intencionais. Como afirma Searle, uma crença já é enquanto crença, independente de quais processos neurais a estabeleçam. Disso não se conclui, porém, que os processos neurais possam ser tratados como meramente contingentes aos estados intencionais, e que esses possam ser instanciados livremente por máquinas ou outros suportes tecnológicos, já que o problema está em como os processos neurais estabelecem os estados. A independencia lógica dos estados em relação aos neurônios não implica a independência ontológica.
ResponderExcluirCaro Vitor,
ResponderExcluirExcelente! Sinceramente, eu mesmo não fico muito a vontade para dizer que o vocabulário mentalista é completamente independente do seu substractum no qual é efetivado. O Dennett nos lembra que a Design Stance e a Fical stance devem ser levadas também em consideração...
vamos conversando...
Ótimo texto, realmente desperta a curiosidade em relação a investigação do que poderia ser o mundo ''pós-humano'' e ainda gostaria de ressaltar que com o avanço e a possibilidade de formulação da capacidade cognitiva também se faz necessário uma análise pautada a Neuroética a qual eu creio ser um dos pontos os quais impede o avanço e também o qual julgo necessário, e posteriormente, fundamental.
ResponderExcluirParabéns caro Nivaldo, este texto nos trás como você mesmo mencionou anteriormente diversas questões a serem analisadas desde como será a era Pós-Humana.
Vanessa,
ResponderExcluirAcredito, com base no contexto que o texto nos trás, que se fosse possível reduzirmos toda a realidade e substâncias a apenas um tipo de matéria, obviamente o dualismo e muitos outros "ismos" cairiam em desuso. Logo, em minha visão, o vocabulário mentalista perderia muitas de suas definições e aplicabilidade. Resumindo, sim, acredito que a linguagem e todas as formas de comunicação seriam dominadas por uma postura monista.
Elizeu
ResponderExcluirO texto diz justamente o contrário. Diz que os conceitos e termos mentais não dependem do estágio científico ou tecnologico.
"que o vocabulário mentalista nunca será eliminado por completo devido aos avanços das neurociências e das ciências computacionais".
e não fala nada sobre a possibilidade de uma redução da realidade a "substancias", sejá lá o que isso significar. O texto nem sequer toca nessa possibilidade. Esse é um blog de filosofia, e se você pretende evoluir nessa matéria, precisa aprender a ler os textos com atenção.
João
ResponderExcluirAproveitando o que dissestes, tu deverias ter prestado atenção ao que o Elizeu escreveu, pois ele expôs a opinião própria em relação ao que foi exposto no texto, e não o que o texto tenta passar. Concordo com a visão dele, visto que “em minha opinião”, a existência de um “robô sapiens”, só seria possível no pensamento materialista. Sendo dessa forma, pensamentos do tipo dualista não teriam lugar em uma área onde o materialismo se mostraria autossuficiente por assim dizer. E se estou enganado quanto a isso, seria bom que alguém nos mostrasse questões que seriam refutadas pelo dualismo (na realidade proposta), ou por outras visões que não fossem materialistas. E não sei se foi erro de digitação de sua parte, quando comentastes sobre redução da realidade “a” substancias, mas não foi isso que ele quis dizer, pelo que entendi o Elizeu que me corrija se eu estiver errado, ele fala da redução da realidade “E” substancias (por substancias, acredito que seja uma referencia ao dualismo de substancias) a apenas um tipo de matéria. E como o Nivaldo falou este espaço não é um ambiente para o refinamento que o trabalho filosófico exige.
Dhyure,
ResponderExcluirFaço de suas palavras as minhas, pois o que eu e o Elizeu estávamos debatendo era a "possibilidade" de neste mundo Pós-Humano existir uma linguagem que esteja adequada a uma postura monista-materialista, visto que o vocabulário mentalista se adequaria a esta postura, conforme o texto analisa.
E de mais a mais, o blog foi feito para explanar e interpretar ideias,compartilhar conhecimento e não para superar a sofisticação filosófica de fato.
João,
ResponderExcluirPrimeiramente eu quis dizer exatamente o oposto ao que está escrito no texto. Disse que, em minha opinião, se tomarmos como norte uma visão monista a visão dualista passará a não existir e o vocabulário mentalista perderia, de certa forma, sua utilidade.
O texto toca na possibilidade da durabilidade dos conceitos mentalistas. Entretanto, minha opinião diverge do texto. Não expressa-la, mesmo sendo contrário ao texto? Ora, se esse é um blog de filosofia, creio que discussões nunca são demais. E você, o que acrescentou a discussão?
O Dhyure está correto, e em momento algum eu usei a expressão:"Realidade a substancias" e sim "realidade e substancias". Reclamasse da minha falta de atenção ao ler o texto e depois ignorou completamente o que eu escrevi. Perceba que dessa vez, a sua falta de atenção prejudicou o seu entendimento do meu comentário.
Elizeu
ResponderExcluirme desculpe pelos comentários inapropriados. você tem razao, novas ideias são sempre bem-vindas, e eu realmente li seu comentário de forma desatenta. lamento.
João,
ResponderExcluirNão há necessidade de desculpas. Eu errei e você errou. Estamos quites! AUSHUAHSAH
O que não podemos é deixar essa discussão sem o nosso posicionamento.
tiago
ResponderExcluireu acho que a robótica já faz parte da nossa vida tanto em forma de tecnologia na informática e em forma de medicina humana a onde um robô já faz a parte do médico numa cirurgia e também ficam inventando os celulares ,notebooks cada vez mais finos pequenos e avançados e nôs infelismente já nos agaramos a essa era digital e robótica do mundo pois nem hoje em dia nem saimos mais de casa sem levar nossos notbooks e celulares .27/05/2013 19:51
crislaine
ResponderExcluirbom no mundo em que vivemos hoje, com a tecnologia que temos eu acho que a robótica já faz parte da nossa vida pois,o homem não vive sem maquinas estamos tao acostumados que não vivemos sem celular computador entre outras maquinas em geral mas por outro lado sera que a maquina sentira faltas do ser humano?
tiago josé lunelli
ResponderExcluirtemos também os cientistas com suas pesquisas que a cada dia vem avançando mais na ciência descobrindo novas doenças e novas curas atraves tambem da novas tecnologias de hoje que vem ajudando em suas pesquisas com isso se descobre as curas mais rápidas 27/05/2013 20:19
Na sua visão Nivaldo, o que seria pós-humano?
ResponderExcluirQuero parabenizar nivaldo, um genio direto de oxford para unidavi... este livro futuro devera estar disponivel na banca claudia... conto com um preço menos salgado...mas quero parabenizar o livro de nivaldo expondo sua inteligencia atraves de palavras... simplesmente um carrânio, futuro mecatorronico... estarei presente no simposio de filosofia.. abraçoss...
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