24 de setembro de 2018

NEUROFILOSOFIA E ESTÉTICA


Texto de Nivaldo Machado

Primeiramente gostaria de deixar claro que este breve texto tem por escopo primeiro de propiciar o início de uma discussão eminentemente interdisciplinar. Cientistas, filósofos profissionais e interessados pela temática são todos nossos convidados!

Lembro quando Chomsky apontava para o fato de que nossa ignorância poderia ser separada em dois níveis: os mistérios e os problemas. Creio que ele tenha muita razão ao apontar nesta direção, principalmente se o caso envolver as relações mente-cérebro, e, em nosso caso aqui mais pontual, mente-cérebro e estética.

Certamente ainda temos muitos mistérios envoltos nos temas das neurociências e, possivelmente ainda mais, na estética. Entretanto, como é de agrado principalmente dos filósofos, alguns problemas também já possuem boas formulações e bons argumentos para apresentá-los ao tribunal da razão.

Deixemos claro desde o início que entendemos, grosso modo, a Neurofilosofia como uma abordagem que aproxima umbilicalmente os trabalhos das Neurociências com a Filosofia da Mente. E que a Estética é uma área da Filosofia que se preocupa em estabelecer uma reflexão criteriosa acerca do Problema do Belo.

Podemos dizer que tanto as relações corpo-mente e a tentativa de explicar a beleza já se apresentem desde autores de longínquas eras. Sem embargo, é nos dias atuais que, com o advento de uma ciência cujos aparatos tecnológicos se tornam elementos de real necessidade de consideração nos mais diversos âmbitos de investigação, as relações mental-cerebral e o entendimento da beleza ganham também novos contornos.

O que é a beleza? Podemos ainda aceitar o clássico pressuposto “o belo está nos olhos de quem vê!”, ambientes artificiais poderão criar, reproduzir, simular a beleza; existirá arte em artefatos criados por robôs? Robôs poderão perceber o belo? Hierarquização de graus de beleza encontra alguma justificação? Alterações cerebrais provocariam alterações estéticas? Como a mente e o cérebro se portariam em relação à percepção e/ou criação do belo?

Esses são apenas alguns Problemas que parecem ainda possuir alto grau de mistério, mas, em muitos casos creio que possamos elaborar “apostas razoáveis” para tentar justificar do melhor modo possível tais Problemas-Mistérios.

3 de setembro de 2018

SUPERPOSIÇÃO CAUSAL E AUTORREFERÊNCIA: UM BREVE RESUMO

Vitor Tschoepke 
vitor.tschoepke@gmail.com

O objetivo deste texto é apresentar um resumo da teoria da autorreferência como resultado da superposição da história causal de um sistema. Discute-se aqui a autorreferência como um efeito decorrente da associação entre memória e causalidade. Ao considerarmos a situação eventual de um sistema físico, diferentes alternativas prévias podem levá-lo ao mesmo estado. Não é intrínseco a ele os meios que o constituíram, não há nele elementos para retroagir ao seu estado anterior. Em um sistema de superposição causal, porém, o estado contém a história dos estados que o constituíram. 

22 de janeiro de 2018

CAUSALIDADE E INFORMAÇÃO INTRÍNSECA

Texto de Vitor Silva Tschoepke

A investigação da natureza dos processos mentais exige que se relacionem dois tipos de categorias: a informação e a causalidade. Se um observador é um interpretador da realidade, é alguém para o qual o mundo, e cada uma de suas relações possui significado. Se ele recebe informação do mundo, contudo, e a processa internamente em seu cérebro, uma rede de neurônios cuja comunicação se dá por processos eletroquímicos, então um processo neural se transforma em outro e em outro indefinidamente, e nessa medida, a quem além desse contínuo essa informação faz diferença?

Se um impulso cerebral é um evento causal que leva a outro em uma série indefinida, em que nível descritivo um estado do cérebro deixa de ser um simples emissor e se torna um receptor da informação? Da mesma forma, se considerarmos a integração do cérebro, elevando-se da perspectiva de neurônios individuais e estruturas, identificando padrões de interação em uma arquitetura que contempla o cérebro como um todo, o que temos além do fato de que uma configuração momentânea é diferente de outra? Se o processo mental é uma sucessão de estados e ao mesmo tempo é informação, como podemos correlacionar uma categoria com a outra?

Se informação é uma espécie de mediação na qual um evento se torna um tipo de leitura para o outro, então informação será sempre algo relativo a um observador. Mas como explicar em termos informacionais o próprio observador, isto é, como explicar que a informação “extrínseca” se torne “intrínseca”? Uma teoria com essa proposta precisará apresentar um modelo de como a informação surge na estrutura da realidade. Mas essa tarefa não pode ter êxito se não são adotadas premissas consistentes sobre a relação entre causalidade e informação, e desta as perspectivas “extrínseca” e “intrínseca”.

Primeiro vamos discutir uma posição segundo a qual existe um tipo de equivalência entre informação e causalidade, como aspectos complementares e coexistentes em sistemas físicos. E disso, se forem ambos em essência a mesma coisa, um estado descritível em termos informacionais possui então um aspecto relativo a um observador, extrínseco, e um próprio, intrínseco – de existência autônoma na natureza. Se a informação existe paralelamente à causalidade, na física, então todo evento causal possui um tipo de cognição primitiva. Essa proposta ontológica defendida por David Chalmers, é fundamento para a Teoria da Informação Integrada, de Giulio Tononi. Vamos colocar em questão tal premissa, assim como analisar se esta teoria consegue explicar como a informação cerebral se torna intrínseca. Como é o ponto de partida das duas teorias, será interessante passarmos antes a um breve resumo dos conceitos gerais da teoria da informação.

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23 de março de 2017

Tempo, artificial e os algoritmos de compressão no processo evolucionário da linguagem humana

Texto de Nivaldo Machado

Para enfrentarmos mais cuidadosamente esse problema entendemos ser conveniente deixar claro, mesmo que, em alguns casos provisórios, alguns dos termos centrais de nosso trabalho:

i) Adotamos uma postura materialista de base para discutir a questão do processo evolucionário da linguagem humana. Tal postura se manterá até mesmo quando do uso de vocabulário mentalista (nitidamente advindo da Folk Psychology), pois não entendemos que o vocabulário mentalista, em nenhum nível, necessite a adoção de algum tipo de dualismo (tanto de substância quanto de propriedades);

ii)Linguagem é entendida, num primeiro momento, como sendo o termo que abrange todas as instâncias participativas num determinado processo comunicacional. Neste caso, grosso modo, não admitimos a invalidade da possibilidade de linguagem em ambientes artificiais;

iii)Algoritmos de Compressão são os termos que entes dotados de linguagem utilizam para permitir o processo comunicacional em um tempo viável para a efetivação da própria comunicação. O conceito de algoritmo é abrandado de modo heurístico, ou seja, tais algoritmos possuem a função de, num tempo viável, permitir a melhor comunicação possível;

iv)Artificial é todo e qualquer elemento criado em que haja a ação de inteligência sobre as composições dos elementos pertencentes à feitura de um novo ente, e, que sem tal atividade cognitiva (no caso humana ou de outros animais com cérebro suficientemente desenvolvido) tal novo elemento não se faria existente.

v) O fator TEMPO é fundamental em nosso trabalho. Ele terá central importância, pois será em muitos casos, o principal critério que exigirá que Algoritmos de Compressão sejam utilizados.

vi)Processo Evolucionário que adotamos é de inspiração darwiniana. Ou seja, entendemos que a linguagem e, principalmente os termos desta linguagem (e de modo mais específico em nosso caso os Algoritmos de Compressão/vocabulário mentalista) se adequam muito bem ao princípio de adaptação proposto por Darwin. De modo mais claro, Algoritmos de Compressão podem ser substituídos, no tempo, por Algoritmos de Compressão mais aptos num determinado processo comunicacional;


Tendo apresentado alguns dos postulados fundamentais de nossa investigação podemos, em princípio, supor que o vocabulário mentalista terá grande dificuldade de ser eliminado por completo devido aos avanços das neurociências e das ciências computacionais. Tal vocabulário não precisa admitir nenhum tipo de dualismo de substância e se adequa a uma postura monista/naturalista.  E que a evolução do vocabulário utilizado para conceituar os diversos termos necessários para a clareza dos argumentos das diversas teorias é algo inerente à própria natureza da linguagem humana. Tal variação evolutiva decorre justamente em relação da necessidade: (a) de sofisticação conceitual, e (b) de economia explicativa.

29 de novembro de 2016

Pesquisadores publicam ensaio sobre a filosofia de David Hume

Os pesquisadores Denize Carolina da Cunha e Nivaldo Machado acabam de lançar o ensaio “Simpatia e aprovação moral da justiça na filosofia de Hume”. O material integra a versão digital do livro “Ensaios sobre a filosofia de Hume”, organizado pelos professores Jaimir Conte, Marília Côrtes de Ferraz e Flávio Zimmermann.
De acordo com Denize, o ensaio é resultado dos estudos realizados junto ao Grupo de Pesquisa em Filosofia da Mente e Ciências Cognitivas e, sobretudo, do trabalho de conclusão de curso, que teve como tema a teoria da justiça em Hume, e foi orientado pelo professor Nivaldo.
“Este trabalho procura mostrar a relevância da simpatia na aprovação e na prevalência das regras da justiça, ramificando uma inclinação natural proposta por Hume, centralizada em sua principal obra ‘Tratado da Natureza Humana’, conclui Denize.

O ensaio dos pesquisadores está disponível na íntegra para leitura no link: NEL